Por Fabio Leite, da Crusoé — A Lava Jato foi sepultada já faz um tempo, mas o espólio da extinta força-tarefa de São Paulo segue em curso na Polícia Federal e assombra políticos paulistas. Na lista de investigações com origem na operação há, por exemplo, quatro inquéritos envolvendo suspeitas de corrupção em obras de cinco linhas do metrô nos governos do PSDB. Todos correm sob sigilo.
Os casos envolvem as delações premiadas de Sergio Corrêa Brasil, ex-diretor da estatal que controla o metrô, e de Anuar Caram, executivo da empreiteira Andrade Gutierrez. O material foi considerado tão promissor para a obtenção de provas contra corruptos que os procuradores do Ministério Público Federal encaminharam todo o acervo para a PF pouco antes do desmonte da força-tarefa, em setembro de 2020.
O receio era de que, se ficasse no MPF, sob a avaliação da única procuradora que herdou os casos oriundos da Lava Jato, os procedimentos fossem arquivados. Até um ano atrás, 26 investigações já tinham sido enviadas para a gaveta. A estratégia deu certo. Crusoé apurou que todos os inquéritos estão em andamento na Polícia Federal, o que preocupa atuais e ex-integrantes do PSDB, partido que comanda o estado há mais de duas décadas. Um dos que têm motivos para temer o avanço das apurações é o ex-governador Geraldo Alckmin, que deixou a legenda recentemente para se filiar ao PSB.

As suspeitas envolvem obras das linhas 2, 4, 5, 15 e 17 do metrô paulista. O esquema investigado segue o padrão descoberto pela Lava Jato. As empreiteiras montaram um cartel e subornaram agentes públicos e políticos pagando propina e caixa 2 de campanha para superfaturar contratos.
Entre os citados na delação está o atual governador, Rodrigo Garcia, candidato à reeleição. Ele foi acusado por Sérgio Brasil de implantar um “esquema de contribuições político-partidárias” dentro da estatal, com o objetivo de comprar apoio na Assembleia Legislativa no período em que foi deputado estadual. O delator disse que o governador foi seu “padrinho político” na estatal. Ele ainda afirmou ter feito entre 15 e 20 entregas de até 100 mil reais em dinheiro para Garcia, que nega todas as acusações.