Por Carlos Madeiro do UOL — A visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Pernambuco, em julho, era vista como um divisor de águas para que o candidato apoiado por ele ao governo do estado, o deputado federal Danilo Cabral (PSB), subisse nas pesquisas.
Não funcionou. Com desconforto, Lula ouviu ecoar nos atos os gritos por Marília Arraes (Solidariedade) e viu seu aliado cair ainda mais nas pesquisas, impregnado pela onda de rejeição de seu padrinho local, o governador Paulo Câmara (PSB).
A avaliação de seu governo está muito baixa. Segundo dados do Ipec divulgados na última segunda-feira, 53% dos pernambucanos apontaram a gestão do governo estadual como ruim ou péssima.
Só 15% disseram ser boa ou ótima. Outros 29% a veem como regular. “O fato é que Danilo é identificado com o governo do PSB, com o governador Paulo Câmara”, diz o cientista político Arthur Leandro, professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).
A disputa ao governo de Pernambuco tem 12 candidatos, com cinco nomes vistos como mais competitivos. Entre esses cinco, segundo o último Ipec, Danilo é o que aparece em pior situação, com apenas 6% das intenções de voto.

Veja os cenários de 1º turno Cenário estimulado (com lista prévia de nomes):
- Marília Arraes (Solidariedade): 33%
- Raquel Lyra (PSDB): 11%
- Anderson Ferreira (PL): 10%
- Miguel Coelho (União Brasil): 9%
- Danilo Cabral (PSB): 6%
- Claudia Ribeiro (PSTU): 1%
- Jadilson Bombeiro (PMB): 1%
- João Arnaldo (PSOL): 1%
- Jones Manoel (PCB): 1%
- Ubiracy Olímpio (PCO): 0%
- Pastor Wellington (PTB): 0%
- Brancos e nulos: 17%
- Não souberam: 9%
Para Arthur Leandro, apesar da visita de Lula, a associação de Danilo com a figura do ex-presidente não parece convencer o eleitorado. “Essa vinculação de imagem não é um processo de hoje. Danilo está no mesmo rol de políticos como Paulo, como Geraldo Júlio [ex-prefeito do Recife]. Já Marília trabalhou para ser candidata ao governo em 2018, quando ainda era do PT. Ela foi a candidata de Lula em 2020”, diz.
Logo, Marília é identificada a Lula mais naturalmente, mesmo não estando no PT. Já para Danilo Cabral, esse é um esforço digamos simbólico e indireto da aliança de PT e PSB. – Arthur Leandro, cientista político.
O cientista político afirma ainda que, nesse cenário de “palanque duplo”, Lula não está investindo na campanha de Danilo. “Ele cumpriu o seu papel, mas não disse que Marília é sua adversária. Grande parte do eleitorado de Lula vota em Marília”, diz.
‘Eduardismo’ rachado Há 15 anos e oito meses no poder em Pernambuco, o PSB convive hoje com um cenário de racha da base construída por Eduardo Campos (ex-governador morto em acidente aéreo em 2014).
Os cinco candidatos mais bem colocados na disputa eram aliados ou integraram o governo de Campos no estado. A primeira colocada, Marília Arraes, é prima de Eduardo e foi secretária de Juventude e Emprego de Pernambuco entre 2007 e 2008.
Após a morte de Eduardo, porém, passou a ter divergências com o PSB pelo apoio do partido a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno da eleição de 2014. Em 2016, com o apoio da sigla ao impeachment de Dilma Rousseff (PT), deixou o partido.

Segunda colocada na pesquisa Ipec, a ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra (PSB) é filha do ex-vice-governador de Campos, João Lyra Neto, que chegou a assumir o posto em abril de 2014, após a renúncia de Campos para disputar a Presidência.
Nesse mesmo segundo mandato de Eduardo, Raquel foi secretária da Criança e da Juventude. Já Miguel Coelho (União Brasil) é filho do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB), que foi braço direito de Campos.
Ele foi secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco e presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape entre 2007 e 2010. Em 2011, assumiu o Ministério da Integração Nacional do governo Dilma Rousseff (PT) por indicação de Campos.
Até mesmo o candidato de Jair Bolsonaro (PL) em Pernambuco tem ligações com Eduardo Campos. Anderson Ferreira (PL) ganhou sua primeira eleição na Frente Popular, apoiando o ex-governador em 2010.
Para o cientista político Adriano Oliveira, o grande desafio de Danilo Cabral não é o racha do “eduardismo”, mas a imagem desgastada do PSB no estado. “A dificuldade de Danilo é apenas justificar por que o PSB merece seguir no poder”, diz.
Ele explica que o movimento chamado “eduardismo” guarda semelhanças com o lulismo, tanto pela força que alcançou como por unir em torno de seu nome uma aliança gigante de políticos e partidos.
Eduardo Campos foi um consenso, por isso que ele criou um movimento muito semelhante ao lulismo, que é um movimento nacional, em particular no Nordeste. Já o ‘eduardismo’ era um fenômeno local.”.
Sobre os demais candidatos que orbitavam em volta de Campos, ele afirma que é normal que eles busquem caminhos diferentes após sua morte.
“Os outros candidatos se afastaram do PSB simplesmente por disputa de espaço de poder, o que é absolutamente normal em qualquer atividade, em qualquer dinâmica política”, cita.