Por Ricardo Antunes – Pernambucano perdeu, há pouco, mais um expoente de nossa cultura. Depois de Ivan Mauricio, faleceu por volta das 23hs, em Olinda, o cineasta e jornalista Celso Marconi.
Nos anos 1950, firmou relação importante como jornalista com a cena recifense, tendo entre contemporâneos Fernando Spencer e Jomard Muniz de Britto. Durante anos, ele fo um dos principais colunistas do Jornal do Comércio
“Para as gerações que atravessaram a ditadura no Recife, ele foi o maior e melhor crítico de cinema do Brasil”, disse o escritor Urariano Mota que escreveu o texto a seguir: Celso Marconi, Adeus
Acaba de falecer o maior crítico de cinema do Brasil.
Aos 93 anos, em Olinda, Celso Marconi partiu. Para as gerações que atravessaram a ditadura no Recife, ele foi o maior e melhor crítico de cinema. Mas não só para as que atravessaram aqueles dias. Para as gerações que vieram depois também. Tento explicar.
Celso Marconi formou muitos cineastas de Pernambuco, tanto pela crítica no Jornal do Commercio, do Recife, quanto pela programação que, ao lado de Fernando Spencer, deu de presente à nossa geração no Cine de Arte Coliseu. Ah os filmes a que assistimos ali! A nossa vida jamais seria a mesma, jamais teria sido o que foi, nem o que é até este momento, sem aqueles filmes do Coliseu. Tantos, De um deles, O Anjo Exterminador, recuperei seu impacto em “Soledad no Recife” nas primeiras linhas:
“Fossem outras circunstâncias, diria que a visão de Soledad, naquela sexta-feira de 1972, dava na gente a vontade de cantar. Mas eu a vi, como se fosse a primeira vez, quando saíamos do Coliseu, o cinema de arte daqueles tempos no Recife. Vi-a, olhei-a e voltei a olhá-la por impulso, porque a sua pessoa assim exigia, mas logo depois tornei a mim mesmo, tonto que eu estava ainda com as imagens do filme. Em um lago que já não estava tranquilo, perturbado a sua visão me deixou. Assim como muitos anos depois, quando saí de uma exposição de gravuras de Goya, quando saí daqueles desenhos, daquele homem metade troco de árvore, metade gente, eu me encontrava com dificuldade de voltar ao cotidiano, ao mundo normal, alienado, como dizíamos então. Saíamos do cinema eu e Ivan, ao fim do mal digerido O Anjo Exterminador. Imagens estranhas e invasoras assaltavam a gente.

Numa homenagem ao crítico de gênio em 2022, escrevi para ler no palco do cinema da Fundação Joaquim Nabuco:
“Olhem a lição de cinema, no seu texto ‘Face a Face de Bergman’. Celso Marconi volta ao clássico e relata a mais atual e revoltada impressão destes dias:
‘Face a Face é melhor ser visto num aparelho individual, numa TV grande, mas de maneira que você possa parar quando estiver cansado, prostrado, e sair para comer um chocolate ou tomar um café antes de continuar. Penso que, se estivesse vendo esse filme de Ernst Ingmar Bergman hoje numa sala de cinema, eu gritaria para que parassem pra gente descansar um pouco…
A grande sequência do filme ocorre enquanto a doutora está internada no hospital e vive inúmeros momentos de alucinação. O diretor faz as cenas acontecerem em termos realistas, embora sejam todas verdadeiros sonhos. Dessa maneira, o espectador vivencia como se estivesse ele mesmo dentro da mente da personagem – e ele próprio vivendo todo o drama”.
Se eu fosse poeta, escreveria estes celsos:
Celso Marconi
Celso Marconi
Celso Marconi
Celso Marconi
Celso Marconi
Celso Marconi!…
Como se fosse um adeus a nosso guru de gerações.