Da Redação do Blog – Autor de dossiê sobre supostas irregularidades na superintendência da Santa Casa de Misericórdia do Recife, seu ex-funcionário Alan Eric de Sousa enviou o documento também ao Núncio Apostólico no Brasil, Dom Gianbattista Diquattro, e disse, em carta ao Núncio, não ter conhecimento de nenhuma providência concreta sobre as denúncias, até agora, pela Arquidiocese de Olinda e Recife.
Alan Eric informa, na carta, que antes de elaborar o dossiê, de 68 páginas, com fotos e prints de conversas por WhatsApp e indicações de busca de provas, teve reunião, que disse a amigos ter sido de quase cinco horas, citada de passagem na correspondência, com o chanceler da Cúria Metropolitana, padre Moisés Ferreira Lima, e o juiz da Câmara Eclesiástica, padre Cícero Ferreira de Paula, designado para apurar as denúncias.
Como divulgou o Blog, Alan Eric acusa no dossiê o padre Claudionor Alves de Lima, que assumiu a superintendência da Santa Casa em janeiro de 2024, de haver usado para gastos pessoais o cartão corporativo com o nome do arcebispo Dom Paulo Jackson, presidente da instituição, com limite de R$ 60 mil, e de promover assédio sexual de outros padres sobre os servidores da instituição, incluindo ele próprio.
Situada no Setor de Embaixadas Sul, em Brasília, a Nunciatura Apostólica é a embaixada do Vaticano no Brasil.
Confira a íntegra da carta:
“Recife, 14 de julho de 2025
Excelência Reverendíssima,
Dom Giambattista Diquattro
Núncio Apostólico no Brasil
Venho, por meio desta, apresentar uma súplica urgente diante da grave situação que venho enfrentando na Arquidiocese de Olinda e Recife, à qual servi com zelo, respeito e profunda fidelidade à Igreja de Cristo.
No dia 14 de junho de 2025, encontrei pessoalmente, na Cúria Arquidiocesana, o Exmo. Sr. Dom Nereudo Freire, Bispo Auxiliar, a quem relatei — sem qualquer espírito de vingança ou retaliação — que havia sido demitido sem justa causa de minhas funções na Santa Casa de Misericórdia do Recife. Na ocasião, compartilhei fatos gravíssimos que presenciei no exercício de minhas atribuições institucionais junto à superintendência da referida instituição, envolvendo situações de má gestão, assédio moral, desvio de função, abusos diversos e possíveis irregularidades administrativas e financeiras.
Fui orientado por Dom Nereudo a redigir uma carta relatando os acontecimentos, sob recomendação do Arcebispo Metropolitano, Dom Paulo Jackson. Essa carta foi enviada ao e-mail e ao WhatsApp de Dom Nereudo (conforme comprovante anexo). Dias depois, fui contactado por telefone pelo Chanceler da Cúria, Pe. Moisés, que me convocou para uma oitiva, na qual atuou como notário, estando presente também o Pe. Cícero Ferreira, como ouvinte.
Diante da gravidade dos fatos, senti a necessidade de organizar um Dossiê mais completo e fundamentado, que pudesse respaldar, diante de Deus e da Igreja, o testemunho que eu estava oferecendo. O referido Dossiê foi entregue pessoalmente na Cúria Metropolitana no dia 1 de julho de 2025, em cinco vias, destinadas respectivamente ao Arcebispo, ao Bispo Auxiliar Dom Nereudo, ao Chanceler Pe. Moisés, ao Pe. Cícero (Juiz da Câmara Eclesiástica) e a mim mesmo, para fins de resguardo. A entrega foi protocolada formalmente, com assinatura e carimbo oficiais da Cúria, conforme documento anexo.
Apesar de toda essa formalização e da gravidade das denúncias, passados mais de trinta dias, não recebi qualquer resposta oficial ou iniciativa pastoral para esclarecimentos, acolhimento ou proteção. Nenhuma providência concreta me foi comunicada. Ao contrário, desde então venho sendo alvo de perseguições explícitas e ameaças de morte, encontrando-me hoje em extrema vulnerabilidade, privado de renda, dignidade e segurança — tudo isso apenas por ter denunciado, com base em minha consciência e fidelidade à Igreja, fatos que considero escandalosos à luz do Evangelho e da moral cristã.
Diante da omissão da autoridade eclesiástica local, que contraria os princípios da justiça, da prudência pastoral e da caridade cristã, venho apelar à Vossa Excelência, como legítimo representante do Santo Padre no Brasil, para que tome ciência formal dos documentos ora anexados e, se assim julgar conveniente, intervenha conforme lhe for possível e prudente.
A omissão frente a denúncias tão graves fere diretamente o que determina o cân. 212 §3, que assegura aos fiéis o direito de manifestar aos pastores sagrados a própria opinião sobre o bem da Igreja, e de a dar a conhecer aos demais fiéis, sempre com reverência e visando o bem comum. Exige também o cumprimento do que estabelece o cân. 1717, segundo o qual, ao tomar ciência de possível delito, a autoridade eclesiástica deve iniciar uma investigação preliminar diligente, zelando para que nenhum dano maior recaia sobre os envolvidos — inclusive aquele que denuncia com fundamento.
Excelência, não se trata apenas de restaurar minha dignidade pessoal, mas também de proteger o bom nome da Igreja diante de escândalos que, se não forem enfrentados com firmeza e caridade, poderão tomar proporções públicas lamentáveis. Informo, inclusive, que todo o conteúdo foi vazado à imprensa, sem minha participação ou consentimento, o que torna a situação ainda mais delicada.
Sempre busquei agir conforme as orientações recebidas da Cúria e de seus representantes, mesmo sem ter tido a oportunidade de ser recebido pessoalmente pelo Arcebispo, de quem já era alvo de difamações e perseguições internas antes mesmo da denúncia.
Confio no discernimento e no zelo de Vossa Excelência, bem como na solicitude da Santa Sé, sempre atenta às dores de seus filhos. Coloco-me à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais e para diligências que esta Nunciatura Apostólica julgar pertinentes.
Com sentimentos de respeito filial e esperança na justiça eclesial, despeço-me.
Fraternalmente,
Alan Eric de Sousa”