Por Ruy Goiaba, na Crusoé — Como não estou disputando concursos de popularidade e sigo firme no propósito de continuar sendo o colunista menos comentado da Crusoé, decidi investir com tudo na impopularidade. Ou não, porque o brasileiro ama um feriado. E minha proposta é: por que não transformar em feriado nacional o dia do 7 a 1, 8 de julho?
Não seria a primeira vez que uma derrota é “homenageada” com um feriado: aqui em São Paulo, o 9 de julho é exatamente isso. É o dia da Revolução de 32, aquela que os paulistas perderam — aliás, o termo “revolução” é usado de maneira bastante elástica para descrever o acontecimento (vale o mesmo para o 20 de setembro e a Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul). E nós ainda teríamos a vantagem de juntar uma derrota com outra, o 8 de julho com o 9 de julho, e ganhar um feriado prolongadaço — principalmente se 8 de julho cair numa terça ou numa quarta. As batalhas perdidas não terão sido em vão.
Todos os anos, esse feriado do 8 de julho nos lembraria de que os brasileiros somos um povo que adora tomar decisões erradas: já elegemos Dilma Rousseff, Jair Bolsonaro e grande elenco, já achamos que David Luiz, Bernard “Alegria nas Pernas” e Hulk podiam ser titulares de seleção brasileira e, agora, andamos enchendo bares mesmo com o coronavírus não dando nenhum sinal de que arrefeceu. (É verdade que nisso, como em muitos outros casos, não estamos sós: basta ver os protestos nos EUA, país campeão de mortes e casos de Covid-19. Parece haver entre os manifestantes a curiosa noção de que o vírus tem consciência social e, se a causa for boa, ninguém se contamina).

Hoje, o 7 a 1 é a metáfora mais sintética que temos à mão para descrever as consequências de decisões erradas. E é aquilo que mais nos traduz como país. Não é o dia de Tiradentes, nem o dia do Descobrimento — esse erro de português que já dura 520 anos —, nem o 7 de Setembro, muito menos o dia desse experimento basicamente falido que é a Proclamação da República. (E não tomem isso como “defesa da monarquia”, ainda mais com esses cretinos de sobrenome Orléans e Bragança que andam por aí. Eu só seria a favor se o saudoso Clóvis Bornay fosse entronizado como nosso Rei Sol de língua presa; como ele infelizmente já morreu, a ideia deixou de fazer sentido.)
Enfim, nada disso nos define mais: o que nos define hoje é esse castigo para a húbris, para o excesso de marra, que foi aquela goleada vexatória em casa numa semifinal de Copa. O Brasil fez e faz por merecer. Não apenas sou a favor de substituir por “sete a um foi pouco” o “ordem e progresso” da bandeira — que nunca fez muito sentido no Bananão, mas hoje é basicamente uma piada de mau gosto — como defendo que em cerimônias oficiais, em vez do hino, toquem aquela gravação do Galvão Bueno dizendo “gol da Alemanha!” e “virou passeio!”.
(Admito: há no fundo de tudo isso um restinho de esperança de que o país tome vergonha na cara algum dia. Mas não deve acontecer. Em vez de Pelé ou Tostão, continuaremos sendo David Luiz pensando que é o Beckenbauer.)