Por Patrícia Raposo, na CBN Recife — Com três decretos em cinco dias, o governo de Pernambuco fechou praticamente o cerco às aglomerações, numa tentativa de combater o avanço da covid-19, afetando também muitas atividades produtivas. Não havia outro jeito. As 12 Gerências Regionais de Saúde (Geres), que cobrem os 184 municípios pernambucanos, relatam estar com mais de 90% dos leitos ocupados. Tanto a rede pública, como a privada, estão à beira do colapso. Mas o que os empresários se queixam é novamente da falta de diálogo com o governo.
As festas clandestinas e as aglomerações em espaços públicos têm contribuído para os crescimentos dos casos de forma acelerada. Tem feito também com que ocorra um deslocamento da faixa de idade dos pacientes internados para abaixo dos 50 anos.
“Tem sido cada vez mais frequentes a redução de idosos internados, devido à vacinação, e crescido o número de jovens, que tendem a se aglomerar”, alertou o presidente do Sindicato dos Hospitais de Pernambuco (Sindhospe), George Trigueiro.
O fato é que essas aglomerações levaram a atual situação pré-colapso que se vê agora, com medidas restritivas mais severas rebatendo sobre o setor produtivo.

Ontem, 1º de março, o Governo de Pernambuco proibiu atividades não essenciais das 20h às 5h durante a semana, e ao longo de todo o dia nos sábados e domingos. Clubes sociais e parques estarão fechados nos finais de semana. Nas praias, só será permitida a prática de atividades esportivas individuais. As medidas são válidas até o próximo dia 17
Para o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-PE), André Araújo, as novas medidas preocupam bastante o segmento porque 60% do faturamento vêm das movimentações de fim de semana.
Para André, trabalhar com a previsibilidade média de dois dias imposta pelo governo está deixando os empresários desnorteados. “Não sabemos como agir, se repomos ou não os estoques, porque ficamos na expectativa de que, em dois dias , tudo vai mudar”, ressalta, reclamando da falta de diálogo do governo com os empresários. “Eles precisam conhecer nossa realidade e deixar que ajudemos a construir essas normas, porque entendemos que são necessárias, mas também entendemos do negócio”.
O episódio envolvendo a Ilha de Fernando de Noronha é um exemplo. As atividades não essenciais da ilha haviam entrado no lockdown anunciado neste 1º de março, mas lá não há casos de covid-19 e, além disso, todos os visitantes são testados e não faria sentido o sacrifico do lockdown.
Atendendo a um apelo dos empresários de bares e restaurantes da ilha, o presidente da Abrasel, interveio junto à secretaria de Desenvolvimento Econômico para que a norma fosse revista em Fernando de Noronha. Após compreender a situação, a Secretaria de Desenvolvimento corrigiu a orientação e manteve as operações nos fins semana, assim como o atual horário, que vai até às 22h.

A queixa da falta de diálogo se repete na Associação dos Lojista de Shopping de Pernambuco, Aloshop. “Falta bom senso e inteligência. O que custa ao governo nos chamar para nos sentarmos à mesa e nos dizer: vamos tomar medidas que vão impactar o setor. Como podemos compensar isso?” , diz Ricardo Galdino, diretor executivo da Aloshop.
Ele relata que o novo lockdown será mais uma dor de cabeça para os lojistas. Eles já estão muito apertados e, sem poder faturar nos próximos fins de semana, a situação se complica. “Já começamos a pedir compensações nos preços dos aluguéis atuais, que estão sendo reajustados pelo IGP-M (esse índice acumula taxa de inflação de 28,64% nos últimso12 meses.), e sobre os que foram isentados no ano passado, assim como sobre as taxas”, revela Galdino.
“As medidas restritivas do Governo precisam vir com outras compensatórias”, diz ele, anunciando que o setor já perdeu muito negócios e que “ninguém aguente um ano inteiro nesta situação”.
O presidente da Associação Pernambucana de Shopping Centers (Apesce), Paulo Carneiro, concorda que haverá um impacto econômico importante, não medido ainda, com as novas restrições que afetam as operações de shopping, proibidos de funcionar nos fins de semana. Carneiro entende que se trata de um cenário nacional que precisa ser enfrentado, mas prevê queda na arrecadação de impostos e outros problemas.
“Desde novembro vemos os números da doença avançado, mas o Governo não agiu na mesma velocidade. Deveria ter providenciado os novos leitos de UTI e hospitais de campanha. Anunciar agora 50 leitos não basta”, lamenta o empresário.

As pessoas estão indo ao shopping só para comprar, não mais para se divertir, e isso afeta as vendas”, explica. Ele diz que o lockdown vai prejudicar o comércio como um todo, mas espera que as plataformas de vendas dos shopping centers possam aliviar a situação dos lojistas. “Espero que isso termine logo”, diz
Nas praias, os barraqueiros também vão passar por novo aperto, sem o grosso das vendas de sábado e domingo. E isso após o último fim de semana de muita chuva, quando praticamente não houve faturamento.
Toda essa repercussão sobre as atividades produtivas levou o Movimento Pró-Pernambuco (MPP), que reúne as entidades acima e outras 30, a se posicionar por meio de nota. O presidente do MPP, Avelar Loureiro Filho, disse que a entidade apoia as ações do governo, mas gostaria de cooperar com as medidas.
“Como sempre, o estado não coloca o setor produtivo no debate, embora apoiemos o que está sendo feito. Mas, se participássemos do processo decisório poderíamos colaborar opinando sobre pequenos ajustes para passarmos por esse período tão difícil de forma menos danosa”, opina Avelar Loureiro Filho, presidente do MPP.
O Movimento Econômico tentou ouvir o Governo do Estado sobre as queixas, mas ainda agurda respostas.