A ordem para a dispersão da manifestação contra o presidente Bolsonaro, no último dia 29 de maio, foi feita pelo ex comandante da Polícia Militar de Pernambuco, Vanildo Maranhão. É o que aponta documento interno da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco que foi destinado ao subcomandante do Batalhão de Choque, major Valdênio Corrêa Gondim Silva, que o Blog teve acesso.
De acordo com o que foi descrito no documento, a Ordem do Comando da Polícia Militar era que a dispersão ocorresse ainda na Praça do Derby, mas como parte do grupo já havia saído, a orientação seria que a polícia deveria seguir para a Praça do Diário.
“Por volta das 11h30, o capitão PM Máximo (oficial de supervisão) chegou ao local e incorporou na
Tropa de Choque. Neste momento, recebi uma ligação do major Feitosa, coordenador do Copom,
me informando que a determinação do comandante geral da PMPE era para que: se os
manifestantes avançassem em direção à Praça do Diário, era para a Tropa de Choque realizar a
dispersão via CDC, usando os meios dispostos.” diz um dos trechos do documento.
O documento afirma que os manifestantes foram “hostis” com os PMS que estavam no local, inclusive com o arremesso de pedras e xingamentos de “fascistas” e palavras de baixo calão.
“Diante disto, como já havia a ordem de dispersão por parte do comando geral da PMPE e a Tropa
de Choque já estava hostilizada e sofrendo agressões injustificadas, iniciou-se o processo de
dispersão (…) com utilização dos materiais de menor potencial ofensivo e com técnicas e táticas de
controle de distúrbios civis (CDC)”, relata a comunicação interna.
O Comandante geral da PM não estava no Centro Integrado de Comando e Controle Regional (CICCR), no sábado passado, acompanhando as câmeras da cidade em tempo real. Mas estavam lá o então secretário de Defesa Social de Pernambuco, Antônio de Pádua, e o agora titular da pasta, Humberto Freire. Além deles,
diretores da PMPE.
Manifestantes realizavam, no ultimo dia 29 de maio, no Centro do Recife, um ato contra o presidente Jair Bolsonaro e pedindo a aceleração da campanha de vacinação e auxílio emergencial de, ao menos, R$ 600. Durante o ato, a Polícia Militar atirou balas de borracha e gás lacrimogêneo contra os participantes. Dois homens, que não participavam do ato, foram feridos nos olhos com balas de borracha e perderam parcialmente a visão.

Um dos feridos que perdeu a visão foi o adesivador de táxis Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, que perdeu o globo ocular e foi atingido, também, nas costas. Ele foi ao Centro da cidade buscar material de trabalho. O outro ferido foi o arrumador Jonas Correia de França, de 29 anos, que havia saído do trabalho e estava voltando pra casa no momento da manifestação.

A vereadora do Recife Liana Cirne (PT) também foi agredida por Policiais Militares. Enquanto tentava conversar com os PMS, ela recebeu um jato de spray de pimenta no rosto. A parlamentar precisou ser levada a uma unidade de saúde.
O caso ganhou repercussão em todo o país pela brutalidade utilizada pela Polícia para dispersar uma manifestação que ocorria de forma pacífica. O Governador Paulo Câmara, PSB, demorou a se pronunciar sobre o caso, e, quando fez, negou que a ordem para que a PM agisse tivesse partido do Governo do Estado. A vice-governadora, Luciana Santos, PCdoB, divulgou um vídeo na tarde do ocorrido, mas negou que a ordem tivesse sido do governo.
Como não tem mais direito a foro privilegiado, o coronel que foi demitido pelo Governador Paulo Câmara (PSB) no último dia 01 de junho vai responder o processo na Vara da Justiça Militar Estadual.
O ex comandante tem duas alternativas. Fazer seu depoimento como testemunha ou como acusado. Se optar pela segunda alternativa o caldo vai entornar de vez, pois isso significa que ele pode envolver de quem teria recebido a ordem, que no caso, é claro, teria sido de um superior.
E só existem duas pessoas acima dele. O ex secretário da SDS, Antônio de Pádua, ou o próprio governador Paulo Câmara (PSB). O fato é que com essa nova revelação o problema só faz aumentar o desgaste do governo do Estado.
Vejam o documento: