Do Valor — O aumento do temor fiscal elevou o “prêmio” pedido pelo mercado para comprar títulos brasileiros e deve contribuir para esticar o movimento de alta dos juros. Se a taxa Selic subir os nove pontos percentuais previstos no ciclo iniciado pelo Banco Central em março e o IPCA ficar 5,75 pontos acima da meta de inflação, o custo adicional ficará em R$ 360 bilhões por ano, considerando que o estoque da dívida pública mobiliária ronda a casa dos R$ 5 trilhões. O cálculo, feito pelo economista Sergio Goldenstein, da Renascença DTVM, considera apenas o custo do estoque.
Não se sabe qual será a estratégia para rolar a dívida de R$ 1,1 trilhão que vencerá em 2022, mas é certo que o Tesouro terá que lidar com taxas mais altas nas novas emissões de papéis prefixados, uma vez que os juros futuros são negociados com taxas superiores a 12% em praticamente todos os vencimentos a partir de 2023.
Da mesma forma, as NTN-Bs pagam juros reais perto de 5,5%, muito acima do juro neutro, estimado entre 3% e 4%. “Os preços que achávamos que iríamos bater na eleição estamos vendo agora”, diz Luiz Eduardo Portella, da Novus. Ele observa que os juros futuros apontam para uma Selic de 14% em 2023, o que carrega uma dose importante de prêmio de risco.
Nesses momentos, há duas saídas para o Tesouro: fazer emissões mais curtas – o que gera um risco de rolagem – ou ampliar a oferta de papéis pós-fixados, as LFTs, que podem ser mais demandadas em tempos de alta da taxa básica, mas pioram o perfil da dívida.