Da Redação do Blog – “Quanto vale o show?”. Essa era uma das perguntas feitas aos jurados pelo apresentador Sílvio Santos no quadro “Qual é a Música”, que foi ao ar durante muitos anos, aos domingos. Essa questão também deve servir de ponto de partida de reflexão, em meio aos eventos de São João no estado: afinal, quanto vale a apresentação de um artista? Qual o limite para uma prefeitura pagar por um evento cultural, mesmo que seja na maior festa popular do Nordeste?
A “gastança” das prefeituras no período junino faz parte de um debate que deve ser levado adiante pelas autoridades que controlam os gastos públicos em Pernambuco.
Um levantamento exclusivo feito pelo blog, nas páginas de Diário Oficial, mostra alguns exemplos de como é gasto o dinheiro durante os festejos juninos, fora do grande circuito do forró, nos grandes centos como Recife, Caruaru, Arcoverde e Petrolina.
A pequena cidade de Solidão, no Sertão pernambucano, pertinho da divisa com a Paraíba, não tem sequer 10 mil moradores e o Índice de Desenvolvimento Social (IDH) é baixo.

Pois bem. A prefeitura do município, distante 409 quilômetros da capital, pagou R$ 50 mil para fazer o show da banda Feitiço de Menina, durante os festejos juninos. E essa contratação, assim como aconteceu nas outras cidades, foi feita sem processo de licitação. Ou seja, os gestores públicos escolheram a atração e pagaram o cachê, sem nenhuma forma mais apurada de seleção adequada ao tamanho dos cofres públicos.
Em Ferreiros, distante 114 quilômetros do Recife, o show da banda Sedutora e Juarez custou R$ 60,5 mil aos cofres públicos. A contratação também feita sem licitação. A cidade tem pouco mais de 12 mil habitantes e um IDH considerado médio.

Orobó, fica a 108 quilômetros do Recife, no limite entre a Zona da Mata e o Agreste, e tem pouco mais de 20 mil habitantes. Este ano, a prefeitura pagou R$ 35 mil para a uma atração chamada Bob Léo Mercadoria, na localidade de Vila Feira Nova.
Camutanga, cidade na Zona da Mata Norte, distante 120 quilômetros da capital, tem pouco mais de 10 mil moradores. No São João, a prefeitura pagou R$ 50 mil por um show de Hélder Lima.

Em Cumaru, no Agreste, distante 90 quilômetros do Recife, a prefeitura pagou R$ 10 mil para um dos shows de São João. A cidade de pouco mais de 15 mil moradores contratou Walda Sedícias, sem licitação.
Um caso que chama a atenção é da cidade de Ourucuri, no Sertão do estado, distante 623 quilômetros do Recife. A prefeitura contratou atrações para povoados e distritos do município, com valores entre R$ 11 mil e R$ 20 mil.
O cantor Kawanzinho recebeu R$ 13 mil, sem licitação, para um show junino no distrito de Jacaré. Lamarck Macêdo levou R$ 11 mil para uma apresentação no Sítio do Tatu e Vitor Meira ficou com R$ 20 para tocar do povoado de Videu.
Polêmicas
O período junino deste ano foi marcado por denúncias de gastos excessivos, “privatizações de espaços públicos e contratos investigados pelas autoridades.
O caso mais notório é o do Camarote Exclusive de Caruaru, denunciado com exclusividade pelo blog. Os empresários Felipe Carreras e Augusto Acioli, da Festa Cheia, fizeram contrato sem licitação com a Fundação de Cultura e montaram um espaço VIP dentro do Pátio de Eventos.
Pagaram uma mixaria de R$ 220 mil e esperavam faturar $ 30 milhões em 18 dias. O caso foi parar na Justiça, que determinou que a dupla pagasse mais R$ 800 mil para usar o espaço.
Em Gravatá, a empresa vendedora da licitação para fazer todo o São João é de um ex-secretário o do prefeito Joselito Gomes (PSB). A MRC, de Eduardo Caçapa, ficou com um contrato de R$ 3,9 milhões para montar estruturas, selecionar artistas e cuidar das bebidas.
No início dos festejos, a empresa não pagou pelos banheiros químicos e eles foram removidos da área de eventos.