Por André Beltrão – O Brasil melhorou sua posição no ranking mundial da liberdade de imprensa em 180 países, subindo da 82ª posição, em 2024, para a 63ª, este ano, mas o assédio judicial e a violência on-line contra os jornalistas brasileiros continua crescendo, culminando com o assassinato de 30 profissionais nos últimos 10 anos.
A constatação é do ranking anual divulgado pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, comemorado neste sábado (3). Diz a pesquisa que desde 2023 melhoraram as relações entre imprensa e governo no Brasil, mas ressalta, contudo, que a “violência estrutural contra jornalistas, um cenário midiático marcado pela alta concentração privada e o peso da desinformação representam desafios significativos para o avanço da liberdade de imprensa no país”.
O jornalista pernambucano Ricardo Antunes, titular do Blog, é um exemplo claro da “violência estrutural” contra a imprensa constatada pela Repórteres Sem Fronteiras, por suas reportagens investigativas e por denúncias contra irregularidades no setor público e na iniciativa privada.
Em novembro do ano passado, o jornalista foi violentamente agredido ao sair de uma barbearia, no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul. Quase ficou cego do olho esquerdo, levou 30 pontos na região da pálpebra esquerda e foi submetido a cirurgia de duas horas para correção, com placas e pinos, do afundamento da face. O agressor foi identificado e chamado a depor, suspeita-se que o mandante seja um empresário da área médica, mas ninguém foi punido.

Diz a pesquisa que “o cenário midiático brasileiro é marcado por uma forte concentração privada, caracterizada por uma relação quase incestuosa entre os poderes político, econômico e religioso. Dez principais grupos econômicos, oriundos do mesmo número de famílias, dividem o mercado, sendo os cinco maiores: Globo, Record, SBT, Bandeirantes e Folha.”
Segundo a RSF, “a independência editorial dos meios de comunicação regionais e locais é seriamente comprometida pela publicidade governamental.” Constata ainda que “os meios de comunicação públicos enfrentam uma relativa fragilidade orçamentária e estão sujeitos a tentativas de interferência editorial por parte do governo”.
O ranking mundial da liberdade de imprensa faz um levantamento quantitativo dos abusos cometidos contra meios de comunicação e profissionais da mídia e uma análise qualitativa da situação em cada país, medida através das respostas de especialistas em liberdade de imprensa (jornalistas, pesquisadores, acadêmicos, defensores de direitos humanos) a um questionário proposto pela RSF em 25 idiomas.
O mapa da liberdade de imprensa da Repórteres Sem Fronteiras se desdobra em cinco indicadores -contexto político, arcabouço jurídico, contexto econômico, contexto sociocultural e segurança. O ranking deste ano aponta a Noruega em primeiro lugar na liberdade de imprensa, pelo nono ano consecutivo, e, em último, na 180ª posição, a Eritreia, na África.