EXCLUSIVO, por Luiz Roberto Marinho – Falecido em julho do ano passado, aos 88 anos, o cordelista e xilogravador pernambucano J.Borges, reconhecido no país e internacionalmente, será homenageado na Câmara dos Deputados com a primeira exposição após sua morte, entre o próximo dia 23 e seis de junho, no Salão Negro, espaço nobre das duas Casas do Congresso.
A mostra “J. Borges: Poesia e Arte” terá 23 matrizes, 50 xilogravuras em preto e branco e coloridas e 60 folhetos de cordéis, tanto de autoria do artista quanto de outros cordelistas com capas ilustradas por ele. Acompanha a mostra um luxuoso catálogo bilíngue com texto de Bené Fonteles. Joaquim de Arruda Falcão e do curador da exposição, Romildo Gastão, que emprestou obras de sua coleção para a mostra.
Informa Romildo Gastão, amigo do artista por 24 anos e funcionário do escritório de representação do governo de Pernambuco em Brasília, que a exposição terá seis núcleos, para uma melhor compreensão do processo criativo de Borges: o religioso, que será o mais completo do artista exibido até hoje, e os núcleos Sertão, Povo Nordestino, clássico e comercial.
Estarão na mostra obras emblemáticas, como as xilogravuras impressas Mudança de Sertanejo, O Monstro do Sertão, A Chegada da Prostituta no Céu, A Mulher que Botou o Diabo na Garrafa, Lampião e Maria Bonita, Coração na Mão, A Vida na Selva e Cavalo Marinho Completo.

Será exposta também uma matriz que Borges fez em homenagem a Brasília, cidade que frequentou desde os anos 70, com exposição no Centro Cultural Banco do Brasil e participação nas várias edições da Feira do Livro. Pablo Borges, filho e um dos herdeiros artísticos da obra do pai, estará presente na mostra, representando a família.
Romildo Gastão revela que a exposição começou a ser discutida por ele com Borges no início de 2024, para comemorar mais de 65 anos de atividades artísticas. Seria uma mostra modesta, com 25 obras no pequeno Espaço do Servidor da Câmara dos Deputados. Com a morte do artista, o Centro Cultural da Câmara resolveu ampliar a mostra e transferi-la para o Salão Negro, espaço dividido com o Senado.
José Francisco Borges nasceu em uma numerosa família humilde em Bezerros, no Agreste, onde viveu durante toda a vida. Sua obra foi inspirada em fatos cotidianos, narrativas populares e lendas regionais. Iniciou a carreira como xilogravador para ilustrar suas próprias histórias em cordel, chamando atenção com títulos inusitados, como Cachorro dos Mortos, Uma Festa em Casa de Corno, A Vida Secreta da Mulher Feia, História do Contador de Mentiras, A Moça que Dançou Depois de Morta, A Filosofia do Peido

A obra de J. Borges influenciou gerações de artistas gráficos, além de ilustrar obras literárias relevantes, como O Lagarto, do português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura, Palavras Andantes, do uruguaio Eduardo Galeano, e diversos clássicos infantis dos irmãos Grimm.
A grande exposição no Salão Negro tem o apoio da Secretaria de Cultura do governo de Pernambuco, da Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco) e, acima das diferenças partidárias e ideológicas, do deputado Carlos Veras (PT-PE), titular da Primeira Secretaria da Câmara, que bancou a maior parte dos custos da mostra, e da presidente da Comissão de Educação e Cultura do Senado, Teresa Leitão (PT-PE).