De O Globo – A agência de notícias americana Associated Press (AP) foi impedida nesta terça-feira de acessar um evento na Casa Branca após ter se negado a mudar a forma como chama o Golfo do México — área no Oceano Atlântico rica em petróleo que banha as costas do México e dos Estados Unidos. Recentemente, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou um decreto rebatizando o local de “Golfo da América”.
Em um comunicado, a AP disse que um de seus repórteres foi barrado nesta terça-feira de acompanhar a assinatura de um decreto no Salão Oval depois de ter sido informada pela Casa Branca que isso aconteceria caso a agência “não alinhasse seus padrões editoriais” à ordem executiva do republicano.
“É alarmante o fato de o governo Trump punir a AP por seu jornalismo independente”, denunciou o editor-executivo Julie Pace no comunicado. “Limitar nosso acesso ao Salão Oval com base no conteúdo do discurso da AP não só impede gravemente o acesso do público a notícias independentes, como também viola claramente a Primeira Emenda”, afirmou, em referência o trecho da Constituição americana que protege a liberdade de expressão e a imprensa livre.
Em uma nota publicada após o decreto do republicano, a AP anunciou que manteria o nome original. Entre os motivos, a agência cita que Trump, enquanto presidente dos EUA, tem autoridade somente dentro do país — e o golfo é compartilhado com o México.

“O Golfo do México tem esse nome há mais de 400 anos. A Associated Press se referirá a ele por seu nome original, ao mesmo tempo em que reconhece o novo nome escolhido por Trump”, justificou também a agência. “Como uma agência de notícias global que divulga notícias em todo o mundo, a AP deve garantir que os nomes de lugares e a geografia sejam facilmente reconhecíveis por todos os públicos.”
Segundo a Associated Press, não raro a agência altera sua orientação de nomes ou se refere por um local por mais de um nome, como é o caso do Golfo da Califórnia, que também é chamado por Mar de Cortez, como é conhecido no México.
Por outro lado, a agência afirmou que mudará o nome do Monte Denali, pico mais alto da América do Norte, para Monte McKinley, alteração também feita por Trump no decreto. A justificativa, segundo a AP, é o fato de ser inteiramente parte do território americano. O monte passou a se chamar Denali em 2015, depois que o ex-presidente Barack Obama alterou seu nome para refletir mais as tradições dos nativos do Alasca, a pedido da comunidade.
“A Associated Press usará a mudança de nome oficial para Monte McKinley. A área fica exclusivamente nos Estados Unidos e, como presidente, Trump tem autoridade para alterar nomes geográficos federais dentro do país”, disse a agência.
Mudanças em andamento
O Google já alterou a nomenclatura da região no Google Maps usado pelos americanos. No app usado pelos mexicanos, o nome original foi mantido. Já para os demais usuários do mundo, ao buscarem a área, será exibido o nome Golfo do México e, entre parênteses, Golfo da América.
Algumas petroleiras começaram a usar o nome Golfo da América em seus balanços para se referir ao Golfo do México. A britânica BP usou pela primeira vez a nomenclatura em seu relatório financeiro, divulgado nesta terça-feira, para se referir às operações na região, incluindo registros retroativos, como o vazamento ocorrido de óleo em 2010.
A americana Chevron também adotou a expressão em seu último balanço, referente ao quarto trimestre de 2024 e divulgado em 31 de janeiro. Já a Shell, com sede no Reino Unido e que também já divulgou resultado, manteve o nome original do golfo.