“Toda história tem dois lados e desconfie sempre de toda versão oficial”.
Foi assim que o professor me recebeu no primeiro dia que entrei no curso de jornalismo. O que era uma “orientação” tornou-se um “mantra” para aqueles que se dedicam ao chamado “jornalismo investigativo”.
É um tipo de “jornalismo” que dá trabalho e que rende pouco – com sorte meia dúzia de processos – isso se você tiver numa capital, pois nos rincões do Brasil isso leva à morte.
O Brasil é o oitavo país do mundo que teve mais jornalistas mortos em 2018. Segundo a Press Emblem Campaign (PEC), em todo mundo, cerca de 113 jornalistas foram mortos ao longo dos últimos 12 meses.
A tragédia que vitimou nove jovens em Paraisópolis é mais um capítulo triste de como o poder público trata os menos favorecidos. Ou por acaso você já viu a PM atrás das festas privadas dos camarotes do Rio e São Paulo?
Pior. A versão dada pelos seis Pms que participaram da chacina é risível. Não se sustenta ao ponto do próprio Ouvidor Geral da PM de São Paulo se dizer “chocado”. “O episódio foi improvisado, precipitado e desastroso”, acrescentou.
A razão pela qual os policiais não estão presos também mostra como a justiça é célere com os pobres e lenta com os que têm poder.
Não fossem as imagens, os vídeos, a revolta de uma comunidade e o trabalho da imprensa, esse seria mais um episódio “comum”. Detalhe: Nenhum dos mortos pertencia a comunidade. Foram fazer o que todo adolescente gosta de fazer em um final de semana: se divertir.
Afinal, que crimes cometeram moças e rapazes, encurralados, que imploravam para não apanhar?
A justiça só vai começar a funcionar quando essa pergunta for respondida.
A ver.
Por Ricardo Antunes