Por Marcos Lima – Já está se tornando praxe, nas principais datas festivas, a prática de reclamações por parte de artistas locais, por se sentirem desvalorizados.
Isso ocorre porque, seja qual for a festividade – São João, Carnaval, festa do Dia do Padroeiro, Aniversário da cidade -, as prefeituras contratam artistas de fora, a peso de ouro, muitas vezes de estilos musicais diferentes (contratam-se cantores sertanejos, rock pop, ou outros estilos quaisquer, para festas juninas, para Carnaval), enquanto os nossos artistas ficam só de expectadores.
Por outro lado, quando eles são contratados, seus cachês são muito inferiores aos das “estrelas” forasteiras, o tempo de show é diferente, o tratamento e o atendimento são inferiores, enfim, tudo é menor para os de casa.
Esses fatos se dão no São João de Caruaru, de Recife e de quase todas as cidades pernambucanas. Dão-se também no Carnaval, no Réveillon, em todas as festividades, enfim.

A abertura do Carnaval de Recife este ano foi com Gilberto Gil e o Grupo Olodum da Bahia. Quando Alceu Valença e o Maestro Spock ou outro artista pernambucano irá abrir o Carnaval de Salvador?
“Ah, mas o encerramento foi com Elba Ramalho”. Sim, acompanhada de Carlinhos Brown.
Fala-se em torno de 93% de participação de artistas locais. Sim, mas quais foram seus cachês? Qual o tempo de show? A que horas? Como eles foram tratados nos camarins? Não é só o fato de se contratar ou não, é também o fato de como se dá essa contratação, quais as exigências para os artistas locais (eles podem proibir alguma emissora de TV de transmitir seu show? Até porque, se pudessem, não o fariam). Eles podem impor o tempo e quem pode lhes entrevistar? Não.
São, pois, dois pesos e duas medidas.
E o pior é que, além de seus ricos, milionários cachês, essas “celebridades” chegam aqui e não permitem que as emissoras locais mostrem seus shows para seus telespectadores, que profissionais locais os fotografem, que os repórteres os entrevistem.
Eles vêm cantar, não interpretam pelo menos uma música regional e, quando o fazem, é pela metade, erram a letra, enrolam; recebem seus cachês com mais brevidade – isso quando já não recebem antecipadamente -, muitos se apresentam sem nenhum entusiasmo (vide a “estrela” Ludmilla), irritados, reclamando de tudo.
Até quando isso vai continuar acontecendo?

Até quando nossos grandiosos artistas serão ignorados ou mal pagos nos grandes momentos culturais de todo o nosso Estado?
Gente, cadê Israel Filho, que até músicas de frevo compôs no ano passado e não esteve em nenhum show neste Carnaval. E se cantou, ninguém soube, a imprensa não noticiou.
Antes, muitos deles ainda eram requisitados, contratados, para se apresentarem em outros Estados. Hoje, isso ocorre raramente. Mesmo assim, vai ser difícil – para não dizer impossível -, acontecer de um artista pernambucano realizar show no carnaval baiano, nas festas de rodeio no Sudeste, ou em outras festividades em outras praças.
Falta respeito. Falta valorização. Falta um político tomar as rédeas da situação e criar leis que proíbam esse descaso e que, finalmente, nossos artistas tenham vez… em sua própria terra.