Por Helenise Brant – A leitura da “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa da democracia e do estado de direito” foi acompanhada com interesse e preocupação em várias partes do mundo. Dezenas de jornalistas estrangeiros estiveram presentes na Escola de Direito da USP, no largo do São Francisco, em São Paulo.
Enquanto era feita a leitura em São Paulo, a carta em defesa da democracia brasileira, traduzida para o inglês, também foi lida no Kings College of London pelo professor Octavio Ferraz, um dos diretores da instituição britânica. A iniciativa teve apoio do Transnational Law Institute, do King’s Observatory of Democracy in Latin America e do King’s Brazil Institute. A leitura em inglês foi acompanhada por espectadores online da Noruega, Argentina e Estados Unidos entre outros países.
Presidenciáveis pela democracia
Durante a leitura, presidenciáveis que assinaram a carta, se manifestaram em defesa da justiça eleitoral, das urnas eletrônicas e da Constituição. Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) afirmaram, pelas redes sociais, que o evento marca a luta da sociedade brasileira pela defesa da democracia. Lula disse que “Defender a democracia é defender o direito a uma alimentação de qualidade, a um bom emprego, salário justo, acesso à saúde e educação. Aquilo que o povo brasileiro deveria ter. Nosso País era soberano e respeitado. Precisamos, juntos, recuperá-lo”, afirmou.
Ironia e desprezo
O presidente Jair Bolsonaro reagiu assim ao que ele chamou de cartinha: “Hoje, aconteceu um ato muito importante em prol do Brasil e de grande relevância para o povo brasileiro: a Petrobras reduziu, mais uma vez, o preço do diesel”.
Chega de retrocesso
O reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Jr, a abriu o ato dizendo: “Queremos eleições livres e tranquilas, um processo eleitoral sem fake news, sem pós-verdades ou intimidações. Após 200 anos de independência do Brasil, a sociedade deveria estar voltada a pensar o futuro, a planejar como resolver problemas graves na educação, saúde e economia, mas estamos voltados a impedir retrocessos. Espero que essa mobilização nos coloque novamente no caminho correto.”
Com racismo, não há democracia
Uma das poucas pessoas negras presentes no salão da Escola de Direito da USP, a representante da Coalizão Negra por Direitos, Beatriz Lourenço do Nascimento disse o seguinte: “O Brasil é um País em dívida com a população negra, dívidas históricas e atuais. Convocamos os setores democráticos da sociedade brasileira, as instituições e pessoas que hoje demonstram comoção com as mazelas do racismo e se afirmam antirracistas. Sejam coerentes. Pratiquem o que discursam. Enquanto houver racismo não haverá democracia”.
Pluralismo
A carta pela democracia foi lida por três pessoas que se descreveram como preta, branca, morena e um homem branco. Elas, professoras da USP. Ele, advogado.
A primeira a ler foi a doutora Eunice Aparecida de Jesus Prudente, atual secretária municipal de Justiça de São Paulo. A segunda foi Maria Paula Dallari Bucci, professora de direito e filha do Dalmo Dallari, um dos signatários da carta em defesa da democracia lida em 1977. O trecho seguinte foi lido pelo advogado Flávio Bierrenbach, que também participou da articulação do manifesto semelhante durante a ditadura militar. A professora Ana Bechara, vice-diretora da Faculdade de Direito da USP, terminou a leitura da carta. No final, os quatro disseram juntos: Estado democrático de direito, sempre!