Do Globo — O Ministério Público Federal (MPF) realiza nesta segunda-feira, em conjunto com a Polícia Federal e a Receita Federal, a Operação Fim do Túnel, desdobramento das operações Tolypeutes, Ponto Final e Fatura Exposta, para investigar fatos praticados por Júlio Lopes (PP-RJ), ex-deputado federal e ex-secretário de Transportes do Rio. No total, agentes da força-tarefa da Lava-Jato cumprem sete mandados de busca e apreensão em endereços residenciais e comerciais de Lopes e outro contra João Maurício Ottoni de Araújo Pinho, advogado apontado como operador do ex-parlamentar. Lopes atuou como secretário na gestão do ex-governador Sérgio Cabral.
A operação de hoje tem como base depoimentos de empresários a partir do acordo de leniência feito pela empreiteira Carioca Christiani-Nielsen Engenharia . Os investigados responderão pelo crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

O MPF sustenta que, entre 29 de junho de 2010 e 04 de novembro de 2014, por ao menos 18 vezes, o ex-secretário de Transportes, em razão de seu cargo, solicitou, aceitou promessa e recebeu vantagem indevida no valor de, ao menos, R$ 6,5 milhões paga pela Odebrecht. De acordo com as investigações, Lopes teria recebido propina em troca de facilitar licitação, contratação e execução das obras de construção da Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro.
Na petição apresentada ao juízo da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, o MPF explica, também, que, entre 25 de julho de 2010 e março de 2015, por ao menos 55 vezes, Lopes, com auxílio de seu operador financeiro, “de modo consciente e voluntário, em razão de seu cargo, solicitou, aceitou promessa e recebeu vantagem indevida no valor de, ao menos, R$ 7,6 milhões, paga pela Fetranspor, tendo praticado e se omitido em praticar atos de ofício, com infração de deveres funcionais, notadamente em relação ao ressarcimento dos valores do Bilhete Único para as empresas”.
Lopes é ainda investigado por ter recebido, nos anos de 2016 e 2017, período que exercia o cargo de deputado federal , ao menos 3 parcelas de R$ 250 mil dos empresários Miguel Iskin e Gustavo Estelita, já alvos da Lava-Jato, para exercer influência no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO).

O ex-parlamentar já havia sido delatado pelo ex-subsecretário estadual de Transportes do Rio, Luiz Carlos Velloso. Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas e a procuradores da Lava-Jato no Rio, em dezembro de 2017, Velloso admitiu que R$ 3,5 milhões referentes a propinas pagas por empreiteiras envolvidas na construção da linha 4 do metrô passaram pela conta da corretora Ad Valor.. Do montante, cerca de R$ 1 milhão foi usado para pagar contas pessoais dele e do deputado Julio Lopes, apontou o delator.
Ainda segundo o delator, a corretora foi apresentada pelo ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco, e utilizada a partir de 2012 para movimentar dinheiro de caixa dois também para a campanha do deputado Julio Lopes (PP).
A defesa de Júlio Lopes se diz “perplexa” e afirma se tratar de uma operação “desnecessária e abusiva” uma vez que o ex-parlamentar sempre se colocou à disposição das autoridades para explicar qualquer fato. “As afirmações caluniosas de delatores nunca foram levadas a sério”.
“A esdrúxula medida, que versa sobre fatos requentados, sequer poderia ter sido decretada pelo juízo da Sétima Vara Federal do Rio d Janeiro, por ofender a competência da Justiça Eleitoral, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal”, diz a nota. O escritório de advocacia de João Maurício Ottoni de Araújo Pinho não retornou às ligações da reportagem.