*Por Luiz Henrique Piauhylino Monteiro – Figuras emblemáticas e de forte peso político, até os dias atuais, Juan Domingo Peron e sua esposa Eva, governaram a Argentina por três vezes, encerrando o ciclo de poder em 1974. De um lado, uma classe política (seus opositores) os classificava como apenas demagogos ou ditadores e, por outro, seus fiéis seguidores tinham neles seus verdadeiros ícones, cujos principais objetivos políticos eram eliminar a pobreza no país e dignificar o trabalho humano. Até aí, tudo bem, face ao embate político. O povo argentino também se valia dessa polêmica, participando da criação de um movimento revolucionário, o aclamado Peronismo (Movimento Nacional Justicialista), posteriormente transformado num partido político estrelado por Eva Peron.
Logo após o fim da colonização espanhola, cessaram os subsídios à então ex-colônia Argentina. O país se viu obrigado a se reorganizar ao longo do tempo e a se desenvolver economicamente. E foi justamente através da exportação de gado que ao longo do tempo a Argentina chegou ao ranking de quinta maior economia mundial. Houve um época em que, Buenos Aires foi considerada a Europa da América do Sul. Houve, inclusive, uma marcha migratória de italianos, franceses, poloneses e russos que na tentativa de fugir da guerra, enxergavam na terra argêntea um país de oportunidades.

Com a chegada do peronismo em 1945, a redistribuição da riqueza interna mudou por completo a imagem do país, assim como as condições de trabalho, saúde e educação para grande parte da população. O acesso às universidades tornou-se gratuito, o que aumentou enormemente o número de matriculados. Existia então muita gente culta em Buenos Aires. A nova condição interna no país melhorou bastante, inclusive de trabalho, saúde e educação.
A grande decadência argentina veio durante os anos 70 e, desde então, não parou mais. Não suportou a crise mundial, além do regime ditatorial de Maria Estela Martinez de Peron, essa que fez desaparecer dezenas de pessoas e que sequestrou, torturou e matou, mergulhando o país num enorme retrocesso em termos de direitos sociais, incluindo a convivência com níveis de hiperinflação, levando a Argentina ao fundo do poço.
Em 2001, com a maior crise econômica da sua história até então, ironicamente a Espanha, Itália, França e outros países da Europa foram novamente destaque, mas desta vez como destino, movimento reverso, de quem outrora aportara habitante no país em busca de prosperidade. Paz era algo que não existia na Argentina a época, a exemplo dos tempos de hoje. Muitos argentinos que ficaram em seu país de origem tiveram um breve suspiro com o crescimento da economia através do boom da soja nos anos 2000!
Sr. Javier Gerardo Milei, economista, professor e escritor, além de deputado argentino e líder de uma das maiores coalizões (La Liberdade Avança), foi eleito neste domingo passado (19) para governar uma nação linda, porém destruída! Mas não podia ser diferente, considerando o time peso pesado de ex-presidentes que o precederam, de Maria Estela Martinez de Peron, (ditadora nata), Carlos Menem (duas vezes), Nestor Kirchner, Cristina Kirchner (duas vezes) e Alberto Fernández (este tendo como vice novamente Cristina Kirchner). Anos e anos seguidos de tropeços, erros monumentais e corrupção, que resultaram no colapso completo de uma economia outrora destacada, nos anos 70.
Milei coloca um fim, mesmo que temporário, ao peronismo, trazendo consigo um grito de esperança ao seu povo. Democraticamente eleito com 55% de favoritismo nas urnas, surpreendentemente maior do que indicavam as pesquisas, estas que apontavam que possivelmente sua vitória se daria “por una cabeza” – parafraseando Carlos Gardel, o mais famoso cantor de tango da história. Desafios não lhe faltam. Só a inflação anual de 142% aa, assim como metade da população na linha da pobreza, já lhe é suficiente para um árduo trabalho nos próximos anos.
Diante dos trágicos fatos e dos sofríveis dados sócios econômicos amargados pela Argentina, o contexto atual poderia ser ainda pior, já que devemos considerar que a bela nação também é abençoada por Deus. Milei herda para governar uma terra geograficamente localizada na pacífica América do Sul, em detrimento do Oriente Médio com suas constantes e destruidoras explosões, ou do continente europeu, onde se desenrola outra guerra de proporções monumentais, além da questão polêmica dos inúmeros refugiados legais e ilegais. Em nossa América, o Estado Islâmico é inexistente, nem temos a presença do Hezbollah, muito menos uma faixa de terra prometida, secularmente motivo de conflito sangrento. Por aqui impera um cenário de calmaria, sempre avalizado pelo importante parceiro – os Estados Unidos, selado pelas importantes relações comerciais (MERCOSUL) e através do Brasil, o G20.

Caso o presidente Javier Geraldo Milei tenha a sapiência de enxergar no Brasil seu verdadeiro e histórico parceiro econômico, deixando de lado rusgas e xingamentos, fruto de campanha política através de discursos em sua maioria pundonor contra o presidente Lula, além do seu péssimo padrinho político brasileiro, um ex-presidente inelegível por crime eleitoral enrolado até o pescoço por denuncias de toda natureza inclusive originados pelos seus próprios aliados, o Brasil estará de portas abertas para marchar junto com a Argentina para juntos buscarem dias melhores, independente de questões ou posições políticas,pois essa é a histórica da lucrativa relação entre as duas nações.
Receoso é que, a exemplo da nossa política brasileira, uma república jovem de regime democrático quase que recém-nascido, estejamos mais uma vez diante da réplica de políticos eloquentes, jovens, educados, muito bem formados e que usam em suas campanhas jargões, chavões e fortes clichês, prometendo mudanças de vida imediata para um povo já extremamente sofrido e carente, a exemplo do que foram o decepcionante Fernando Collor de Melo e Jair Bolsonaro, ambos coincidentemente com seus direitos políticos caçados principalmente por crime eleitoral.
O novo presidente Argentino, diante desta infantil bravata com o atual governo Brasileiro me faz relembrar as sábias palavras do ex Vice Presidente, Ministro de Estado, Governador, Senador, Deputado Federal e Estadual além de Membro da prestigiada Academia Brasileira de Letras – ABL, Marco Antonio Maciel a quem era atribuída a seguinte célebre frase: “O político ganha ou perde o seu mandato em seu discurso de posse”
Que Deus abençoe o povo argentino e ilumine seu novo “Le Grand Presidente”!
*Luiz Henrique Piauhylino Monteiro é Economista, Pós Graduado em Gestão de Empresas e Piloto.