Por André Beltrão – Foi a pequena Maria Isabel, de cinco anos, quem atrasou a live de Marília Arraes (PT) com o jornalista Ricardo Antunes, por quase cinco minutos. Nem isso, no entanto, tirou a tranquilidade e o sorriso dessa mulher de 36 anos, que quase foi governadora de Pernambuco, há dois anos e que agora deseja se tornar a primeira prefeita do Recife.

Neta do ex governador Miguel Arraes, Marília já nasceu respirando política. Foi da juventude do PSB, três vezes vereadora da cidade, e, agora, exerce o primeiro mandato de deputada federal.
O jornalista Ricardo Antunes iniciou a live questionando o significado da frase da música de Belchior, ‘Alucinação’, publicada no Instagram de Marília: “Amar e mudar as coisas me interessam mais”. Ela disse que “isso tem amplos significativos… Para mim, não dá para querer mudança, se basear em algo, se não tiver amor ao que faz”.
Indagada sobre como a pandemia afetou seu modo de ver a vida, ela desfilou sobre pensamentos humanitários e revelou que “uma reflexão que se acentuou é algo já acontecia há muitos anos. A pandemia deixou bem claro sobre os privilegiados, como nós, e o quanto existem pessoas que necessitam de tudo, pela desigualdade social, o quanto impactou o quanto o Brasil sofreu. Por sermos privilegiados, temos a responsabilidade por lutar para que isso diminua, para humanidade em geral. E Recife é uma das cidades mais desiguais que existem”.
Mãe, ela disse que entende e sente na pele as dificuldades enfrentadas diariamente pelas mulheres que precisam trabalhar e gerenciar seus lares. Uma carga pesada encarada pelas mulheres que se desdobram para dar conta do dia a dia. Com isso, ela falou logo sobre a necessidade de investimento na educação infantil.
“Uma das nossas maiores prioridades, é a construção de creches. Não é somente ser mulher, a gente precisa voar, pular, fazer estripulias, onde o homem chega caminhando. E a falta de creche interfere diretamente neste ponto. É importantíssimo que a mulher tenha um local para deixar seus filhos […] As mulheres acabam ficando com toda essa carga mensal, essa carga da família”, defendeu Marília Arraes.
Sobre o turismo ela frisou sobre o setor “no recife estar abandonado. Se vê muita propaganda […] mas falta o fomento cultural. O turismo de negócios é um grande nicho que precisa de investimento. […] É uma atividade tem tudo para se desenvolver, tem um potencial”, garantiu.
A deputada federal desfilou sobre diversos pontos e agradeceu pelo jornalista ter levantado a pergunta sobre o projeto apresentado, no último mês de março, e que Marília deseja adotar o modelo para a capital pernambucana, caso eleita: “Recife cidade inteligente”.

Desde o início do projeto, que tem sido realizado virtualmente por conta da pandemia, Marília tem debatido e recebido contribuições da população por meio de rádios comunitárias do Recife e através de suas redes sociais. O Recife Cidade Inteligente debate as propostas com a população a partir de cinco eixos: Saúde, Educação, Mobilidade, Combate às desigualdades e Cultura, Esporte e Lazer. “O Recife Cidade Inteligente é um conceito de cidade que coloca os recifenses no centro das decisões. Vamos em busca de uma cidade que olha para as pessoas e para o futuro”, afirma Marília.
Através do projeto, Marília tem realizado um debate amplo com a juventude – que compõe mais de 35% da população do Recife. Marília reforça que não dá para falar do futuro da capital pernambucana sem envolver os jovens, principalmente as mulheres jovens.
A mulher, inclusive, também está no centro do pensamento e do debate do Recife Cidade Inteligente. Moradia digna, mais oportunidades de emprego, combate à violência contra a mulher, saúde e creches em todos os bairros são alguns dos pontos defendidos pela candidata.
Ela diz, por exemplo: “Há algumas questões de que não abro mão de resolver. Queremos um Recife em que nenhuma família precise morar em palafitas, implementando uma política habitacional séria”. “Investir nas equipes de saúde da família, garantindo universalidade e eficiência no acesso ao atendimento e a exames complementares”. “A cidade também tem que enfrentar e discutir uma solução para a questão do trânsito. Não podemos continuar a ter o pior sistema de transporte público do país, nem uma indústria de multas, cujo objetivo é somente arrecadar e punir, sem cumprir seu papel educativo”.
As cidades inteligentes podem ajudar tanto o poder público a reconhecer problemas em tempo real, quanto o cidadão a produzir informações, auxiliando a mapear, discutir e enfrentar essas dificuldades.
Hoje, várias cidades do mundo incorporam e executam o conceito da Cidade Inteligente, que combate desigualdades e elimina a distância entre a população e os serviços públicos. Da rua limpa e iluminada à oportunidade de emprego e renda.
“Eu creio firmemente que Recife pode ser essa cidade. Um lugar que para além da inteligência artificial dos algoritmos tem a inteligência sensível, sincera e genuína de nossas mulheres, homens, jovens, idosos e crianças”, declara Marília Arraes.