Santo de Barro, por Claudemir Gomes
Nos últimos dias tenho sido indagado sobre o que acho da situação de Ronaldinho Gaúcho, que foi detido no Paraguai, junto com o seu irmão Assis, ambos com passaportes falsos. Um episódio lamentável, com final incerto e que mantém o ex-craque da Seleção Brasileira encarcerado no complexo penitenciário Agrupación Especializada da Polícia Nacional, em Assunção.
Ronaldinho é uma celebridade do futebol internacional. Isto é fato. Um virtuoso da bola. Moleque, bailarino, craque… qualquer adjetivo lhe cai bem para definir seu repertório e criatividade na arte de jogar. Ele era a tradução da alegria dentro das quatro linhas, razão pela qual encantava até os adversários.
Recordo, no ano 2000, quando Emerson Leão era técnico do Sport, o rubro-negro pernambucano chegou as quartas de final da Copa João Havelange, tendo como adversário o Grêmio de Porto Alegre. Todos os alertas emitidos pelo treinador leonino eram sobre o personagem maior do Tricolor Gaúcho: Ronaldinho, que acabou marcando dois gols, no jogo disputado no antigo estádio Olímpico, na Capital Gaúcha.
Sempre que o encontrava, era inevitável não ficar tentando adivinhar o seu pensamento. Parecia desconectado com o nosso mundo. Não entendia muito bem os outros mortais, e driblava a todos com um sorriso permanente no rosto, que não nos deixava perceber o sim, ou o não.
A impressão que nós tínhamos era de que, para ele, a felicidade estava naquele quadrilátero onde mantinha um diálogo único, íntimo e pessoal com a bola. E ela satisfazia todos os seus desejos se submetendo aos caprichos do craque como uma amante zelosa e caprichosa. Ronaldinho transformou muitos jogos em duetos. Espetáculos que pareciam ter sidos criados para ele e a bola.
Tão completo e irretocável dentro das quatro linhas, e tão vulnerável e frágil no mundo real, onde sempre precisou de um protetor. O raciocínio foi lógico: ninguém melhor que um irmão para ser meu guardião. Entretanto, no mundo dos negócios as coisas não são tão óbvias quanto parecem.
Fatos nos mostraram que o guardião não era tão seguro quanto se imaginava. Vulnerável as “ofertas”, acabou sendo seduzido por propostas que não condiz, não se adéqua a imagem do ídolo mundial.
No Brasil colonial se usava muito a expressão – “santo de pau oco” – quando se queria falar de pessoas dissimuladas, que não eram verdadeiras.
Ninguém quer aceitar a ideia de que Ronaldinho venha a ser um vilão. Por outro lado, ninguém isenta o seu guardião, o irmão Assis, de culpa.
Pelo sim, e pelo não, o “processo” segue em ritmo lento. Acho que alguém ordenou para ir devagar porque “o santo é de barro”.