Com informações do Estadão* – Os homens da Rota chegaram à Rua Itapeti, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, para cumprir mandados de busca e apreensão e de prisão. Era um dos 52 locais revistados pela Operação Fim da Linha, contra a captura do transporte público de São Paulo pelo PCC.
Às 5h30, ao receberem um envelope lacrado no quartel, os policiais não imaginavam que seriam conduzidos ao icônico Edifício Figueira Altos do Tatuapé, o prédio residencial mais alto da cidade, com 50 andares. Ali, apreenderam dois fuzis, uma submetralhadora, cinco pistolas e um revólver.
A ação no prédio revela a infiltração do PCC na região mais rica da zona leste. O imóvel, registrado em nome da AHS Empreendimentos e Participações, era usado pelo traficante Silvio Luiz Ferreira, o Cebola. Integrante da Sintonia Final da Rua, Cebola é acusado de administrar a lavagem de bens e capitais do tráfico. A defesa nega envolvimento com o tráfico.
Carros apreendidos pela Receita Federal na Operação Fim da Linha pic.twitter.com/3shJTOaMwG
— Marcelo Godoy (@MarceloGodoy000) July 9, 2024
As iniciais da empresa proprietária remetem ao advogado Ahmed Hassan Saleh, o Mude, peça-chave no esquema de lavagem de dinheiro que permitiu ao PCC controlar a empresa de ônibus UPBus e adquirir imóveis milionários. Segundo informações do Estadão, a defesa de Mude não foi localizada.
Empreendimentos como o Figueira Altos do Tatuapé estão na mira da Receita Federal e do Gaeco. São apartamentos de R$ 2 milhões a R$ 20 milhões em bairros como Tatuapé, Jardim Anália Franco e Vila Regente Feijó. Desde 2018, vários desses prédios tiveram até seis apartamentos revistados por diferentes operações policiais. Muitos imóveis estavam em nome de empresas de fachada para ocultar os verdadeiros donos: membros do PCC, incluindo pessoas ligadas a Marcola.
Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, ex-diretor da Porte Engenharia, vendeu muitos desses imóveis. A construtora afirmou desconhecer que clientes de Gritzbach estavam ligados ao crime organizado. O advogado Ivelson Salotto, que defende Gritzbach, disse que ele vendeu imóveis a pessoas erradas e ouviu coisas a respeito delas.
Investigadores apontam que o bairro se tornou uma base de luxo para criminosos que enriqueceram com o tráfico transatlântico. O promotor Fábio Bechara, do Gaeco, comparou o Tatuapé a “Little Italy” de Nova York e à Sicília italiana, dominadas pela máfia.

A PF iniciou a Operação Rei do Crime para investigar a lavagem de dinheiro do PCC no início da pandemia, revelando endereços e negócios relacionados a Marcola. Esses dados apareceram nas Operações Rei do Crime e Tempestade, coordenadas pelo delegado Alexandre Custódio Neto.
Além dos chefes da facção, seus familiares e gerentes migraram para imóveis no Tatuapé, ostentando um estilo de vida elitizado. Eles frequentam bares, restaurantes e festas nos condomínios do bairro, exibindo carros de luxo e consumindo produtos caros.
O advogado de Cebola, Anderson Minichillo, afirmou que seu cliente não tem envolvimento com o tráfico e vive uma “vida de cigano” desde que sua prisão foi decretada. Ele negou a lavagem de dinheiro na UPBus, dizendo que a empresa apresentará uma perícia contábil para comprovar a legalidade dos fundos.
A defesa de Marcola destacou sua absolvição em 1ª instância no processo por lavagem de dinheiro, alegando falta de provas concretas que vinculassem seu cliente ao crime.