Por Ricardo Antunes:
Hoje, não deu mais pra mim.
Só tive duas vezes com o jurista Roque de Brito Alves. Era tão sensível quanto genial.
Mas teve a partida de Betoca (Gilberto Prado),
de Tarcísio Laureano, do pai de um amigo, da irmã de um conhecido.
São gerações distintas, mas a qualquer hora ela vai levar um dos meus.
Quem sabe, eu.
Você que me lê. Que ama e protesta.
Que briga comigo.
Que faz festa e canta como nossa Banda (Aquela de Pau e Corda) a relembrar os carnavais saudosos.
Mas eu queria saber de Amin, de Geneton que nem se foram nessa. Já estão fazendo algum documentário?
Dos músicos e dos jornalistas de fora, que não conheci. Dos que não tive a oportunidade de entrevistar feito Carlos Lacerda, Martin Luther King, Santo Agostinho ou Yohan Cruyff.
Quem sabe Ali ou Pelé.
Dos artistas do Nordeste. Fiz Dominguinhos, mas não falei com o Rei do Baião. Fiz Dom Hélder, mas perdi outros santos. Tantos como ele, puros e anônimos.
Do povo do Alto do Mandu, em Casa Amarela, da pelada na Imbiribeira, dos “assustados” de sábado a noite.
Queria saber da minha única tia que tem 92 e está bem, em Mossoró (RN). Amanhã é dia de falar com ela e com meu filho.
Dos amigos que nunca mais liguei.
Dos amores que se foram.
Onde estará a primeira namorada?
O último beijo roubado.
E bateu aquela saudade antecipada.
Aquele medo que
Lêda Rivas
nos fala.
De que talvez o pior, ainda esteja por vir.
É preciso, sim, contar as histórias.
É preciso falar que tudo vai passar.
Não será tudo isso um sonho mau, como aquele pesadelo de criança que nos fez pular da cama?
Quem se lembra?
Quem se importa?
Hoje, não deu mais pra mim.
E eu fui para um canto da casa para chorar.
Mas não podemos ter medo.
Nem um “receio sequer”, como diz o poeta.
A não ser, “quando a morte vier”.
E nos “pegar sorrindo”
“Querendo ficar”.