*Por Julio Gomes — Lionel Messi foi eleito pela sétima vez o melhor jogador da temporada e conquistou a Bola de Ouro, o prêmio individual mais prestigiado da Europa, outorgado pela revista “France Football”. É a segunda vez que Messi ganha o prêmio sem merecer – a outra foi 2010.
Vamos fazer uma pausa aqui para explicar o que muitos se esquecem: este é um prêmio para o melhor do ano, não para o melhor jogador de futebol do mundo. Messi pode continuar sendo o melhor de todos, respeito este ponto de vista (apesar de não concordar mais com ele). Em 2010, certamente era. Mas estamos falando da temporada 20/21, de um período específico de tempo.
Messi jogou demais na temporada, é um gênio. Fez 38 gols e 18 assistências em 48 jogos pelo Barcelona – que, no entanto, ganhou só uma Copa do Rei e olhe lá. O maior momento de Messi mesmo foi ganhar a Copa América pela Argentina, ajudando a quebrar um jejum de 28 anos sem títulos. Fez quatro gols no torneio, mas, convenhamos, não passou nem perto de brilhar na final contra o Brasil.
Em 2010, Messi era o cara do Barcelona. No entanto, o Barça não foi campeão europeu – caiu para a Inter de Milão, de Sneijder, que destruiu naquele ano e ainda foi à final da Copa do Mundo com a Holanda. Final esta que foi vencida pela Espanha, de Iniesta e Xavi, que ganharam tudo o que Messi ganhou no clube. Qualquer um dos três merecia a Bola de Ouro mais do que Messi, e tenho certeza que isso teria acontecido – mas, em 2010, a Bola de Ouro estava “unificada” com o prêmio da Fifa e a votação já era mais ampla e popular, não restrita aos especialistas que acompanham o futebol europeu de perto.

Mas voltando a 2021. Neste ano, a France Football ampliou a votação para 180 jornalistas de 180 países, o que faz com que ela tenha novamente um caráter mais popularesco do que de especialistas. Votam jornalistas que não vão a um jogo de futebol sequer ao longo da temporada. Antes, o comitê de votantes era formado por especialistas que vivem, respiram e acompanham de perto o futebol europeu. Que acompanham jogos nos estádios, que conversam com gente que faz o futebol acontecer.
E, como esperado, uma votação que tem muito mais “fãs” do que especialistas acaba direcionando o resultado. O nome mais famoso, o nome que encanta mais, é sempre mais lembrado.
Robert Lewandowski ganhou o The Best, da Fifa, no ano passado porque foi muito melhor do que todos os outros na temporada pandêmica 19/20. Foi um monstro. E certamente teria vencido a Bola de Ouro 2020 também, se a premiação não tivesse sido cancelada. Mas, em 20/21, o cara continuou no mesmíssimo ritmo! Quebrou um recorde histórico de gols na temporada alemã, superando os 40 gols de Gerd Muller e que pareciam intransponíveis. Se o Bayern de Munique não foi campeão europeu é justamente porque Lewa não estava – bom lembrar que o Bayern ganhou o Mundial de Clubes, em fevereiro.
Lewandowski merecia o prêmio até mesmo por não ter tido a chance de conquistá-lo no ano passado. O 2021 dele é o mesmo de 2020: impressionante. Deram lá um prêmio de “melhor atacante do ano” para Lewa, um prêmio “surpresa” da France Football e que serve como prêmio de consolação.
Messi é um gênio. Mas deveria ter cinco Bolas de Ouro, e não sete. Ele mesmo admitiu na gala de hoje: “Ganhei por causa da Copa América”. Oras, não dava para a Polônia ganhar a Eurocopa, certo? Lewa sem uma Bola de Ouro é uma injustiça tremenda.
___________________
*Julio Gomes é jornalista esportivo desde 1998. Na Europa foi correspondente da TV e Rádio Bandeirantes e comentarista do Canal+ espanhol. Após a volta para a terrinha natal, foi editor-chefe de mídias digitais e comentarista da ESPN e também editor-chefe da BBC Brasil. Já cobriu cinco Copas do Mundo e, desde 2013, está de volta à primeira das casas.







