*Por Josias de Souza — No mesmo encontro em que acenou para a centro-direita aprovando o neossocialista Geraldo Alckmin como candidato a vice de Lula, o PT teve um surto de radicalismo. Decidiu incluir no programa da federação partidária que formará com PCdoB e PV não a revisão, mas a revogação da reforma trabalhista. A tática que combina mordidas com assopros dá ao projeto presidencial de Lula a aparência de um empreendimento contraditório.
Lula vinha falando sobre reforma trabalhista em timbre mais ameno. Pregava o aperfeiçoamento da reforma aprovada durante o governo e Michel Temer. Mencionou coisas sensatas. Por exemplo: a necessidade de incluir no mundo formal do trabalho gente como os trabalhadores de aplicativos.
A formulação radical que substitui reforma por revogação inclui venenos como a volta do imposto sindical. Consistia na cobrança compulsória de um dia de suor de cada empregado formal. Disso resultava uma coleta de mais de R$ 3 bilhões anuais para os sindicatos.

É aceitável que sindicatos cobrem taxas por ter negociado o dissídio de uma categoria. Mas a negociação precisa ter ocorrido. E o trabalhador precisa concordar com a mordida. Antes da reforma, milhares de sindicatos não faziam senão cuidar da boa vida dos seus dirigentes. E escoravam o ócio sindical nos contracheques alheios.
Há no Brasil cerca de 12 milhões de desempregados. O que o PT, Lula e o neocompanheiro Geraldo Alckmin precisam explicar é de que forma velhas novidades como o imposto sindical contribuirão no esforço de quem está no olho da rua para encher a geladeira.
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*Josias de Souza é colunista do UOL