*Por Eduardo Cunha — Já relatei experiências de eleições anteriores neste espaço. O PT nunca venceu a eleição presidencial em 1º turno. E essa eleição é a 1ª vez que um presidente buscando reeleição enfrenta um ex-presidente, que já tinha sido reeleito.
É uma contradição: de um lado, um presidente candidato à reeleição nunca perdeu no Brasil. De outro, o candidato que liderava no 1º turno nunca perdeu no 2º. Uma dessas duas regras necessariamente será quebrada. Acredito eu que seja a 2ª, pois acho que Bolsonaro vencerá a eleição.
Por qual razão acho isso? Simplesmente por análise dos resultados, principalmente no Sudeste. Em São Paulo, Tarcísio acabou em 1º lugar, já largando no 2º turno com ampla vantagem em comparação ao 1º. Tem também o apoio do atual governador, que não foi para o 2º turno, mas tinha votos de um eleitorado anti-PT. Com isso, Tarcísio deve ter a maior vitória em uma eleição de governador em São Paulo, podendo estender esses votos a Bolsonaro.
Tarcísio vencerá com o dobro dos votos de Haddad.
Bolsonaro teve 12,2 milhões de votos em São Paulo. Se conseguir os votos que no 1º turno foram de Tarcísio (9,9 milhões) e de Rodrigo Garcia (4,3 milhões), ele já expandiria a própria votação em 2 milhões de votos.
No Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro ganhou em 1º turno com uma votação próxima da do presidente no Estado (4,9 milhões para Castro; 4,8 milhões para Bolsonaro). Mas ainda há votos a mais que devem ir para Bolsonaro no 2º turno, aumentando a diferença dele para Lula.
Lá também pesa o apoio do prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes (PSD), muito mal avaliado. Acaba ainda somando a sua rejeição à rejeição do PT.
Bolsonaro, no Rio, terá 1 milhão de votos a mais do que no 1º turno.
Em Minas Gerais, a eleição em 1º turno do governador Romeu Zema (Novo) traz a perspectiva de virada de Bolsonaro no 2º turno, com o apoio do governador reeleito. Zema ganhou por 2,3 milhões de votos de diferença, enquanto Bolsonaro perdeu por 600 mil. Estamos falando de 3 milhões de diferença. Se Bolsonaro recuperar a diferença da votação dele no Estado (5,2 milhões) para de Zema (6,1 milhões), já será quase um milhão de votos a mais.
Ou seja, somente nos 3 Estados do Sudeste, Bolsonaro deverá ter ao menos 4 milhões de votos a mais em comparação ao 1º turno.
Se São Paulo seguir o roteiro das eleições anteriores, onde a diferença contra o PT chegou a 8 milhões de votos, a eleição já estará ganha por Bolsonaro.
Sempre disse que São Paulo decidiria a eleição. Continuo pensando assim. Lula também achava isso –por isso trouxe Alckmin para a sua chapa.
Só que isso não agregou um voto a Lula. Quem era favorável a Alckmin era anti-PT e continua sendo anti-PT. Quem mudou foi Alckmin e não o seu eleitor, que não o acompanhou na sua oportunística mudança.
Alguns vão dizer que a diferença no 1º turno foi de 6 milhões de votos a favor de Lula. Mas lembrem-se que a lógica do 2º turno divide esse número pela metade, se houver troca direta de votos: para vencer, Bolsonaro precisa conquistar 3 milhões de votos que eram de Lula.
Mesmo que não haja a troca de votos, esses 6 milhões já podem ser alcançados somente no Sudeste. E ainda há o Sul, que deve aumentar a votação de Bolsonaro por conta da presença de candidatos que apoiam o presidente como favoritos no 2º turno em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Além disso, há a vitória em 1º turno do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), que inclusive é um dos quadros que podem vir a suceder Bolsonaro em 2026.
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Eduardo Cosentino da Cunha, 64 anos, é economista e ex-deputado federal. Foi presidente da Câmara em 2015-16. Ficou preso preventivamente pela Lava Jato de 2016 a 2021. Em 2021, sua prisão foi revogada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.








