Por Augusto de Franco
Atenção, muita atenção, nefelibatas da política institucional. O governo não caiu, o PT não saiu do poder e não vai desistir assim tão facilmente. Por um motivo muito simples: o PT não pode sair do poder e ficar mais exposto a milhares de processos que levarão centenas (senão milhares) de seus dirigentes e militantes para a cadeia. Tem que se agarrar, até o último instante, às possibilidades e facilidades que o poder confere de influenciar os tribunais (cujos juízes nomeou para servi-lo), contar com a boa vontade dos meios de comunicação (que foram beneficiados em passado recente com empréstimos salvadores, de pai para filho, que tentam manter respirando sob aparelhos negócios que não são mais sustentáveis), manter uma rede suja de blogs e sites que produzem versões fantasiosas e falsas dos fatos para evitar que sua militância caia na depressão e no desespero. Mas há outro motivo, igualmente relevante: o PT não pode, simplesmente não pode, entregar assim da noite para o dia milhares de cargos de confiança que detém no aparelho de Estado e nas empresas estatais e não pode deixar de ter a oportunidade de alimentar, com dinheiro público, uma rede de ONGs (quer dizer, de organizações neo-governamentais) e de falsos movimentos sociais que constituem hoje sua única tropa de choque para amedrontar os liberais-conservadores da vacilante oposição partidária e os setores médios que avaliam que podem perder se o país for arrastado pelo imaginário caos social que supostamente seria produzido por revoltas populares organizadas por MST, MTST e congêneres. Por tudo isso, o mais provável é que o PT estique a corda até o fim, partindo para um jogo de tudo ou nada.
Perdido, perdido e meio, pensam os seus dirigentes, não sem alguma razão, do seu ponto de vista. A saída para o PT está em vender que sem ele no controle, haverá uma catástrofe e que as coisas ficarão ainda muito piores do que já estão. Como isso não basta ser dito ou insinuado, mas exige provas concretas para que as pessoas acreditem, o PT vai apostar na guerra, quer dizer, na perversão da política como arte da guerra. Só polarizando artificialmente a sociedade o PT ganhará sobrevida (que é melhor do que a morte). A guerra preferida do PT, entretanto, não é aquela do confronto violento, a guerra quente, e sim a guerra fria que se instala com uma campanha eleitoral aos moldes petistas. Para não cair e escapar da prisão, Lula pode fazer caravanas e comícios pelo país, para todos os efeitos como se estivesse em uma campanha eleitoral. Na base da sociedade isso provocará uma polarização que agravará a crise política e a crise econômica. A crise econômica não é ruim para o PT, porque aumenta a confusão e alimenta a desesperança. É tudo que Lula espera para renascer das cinzas como um salvador. Vai dar certo? Provavelmente não. Mas as chances de dar certo aumentam na medida em que for concedido ao PT mais tempo para se preparar. Por isso foi errado o que fez o PMDB ao dar um aviso-prévio ao governo. Na guerra em que, infelizmente, se transformou a política, ninguém pode avisar o inimigo que ele terá 30 dias de vida antes de ser aniquilado. Lula aproveitará a trégua para trepar palanque.







