*Por Luana Dallposso – A Reforma Psiquiátrica foi um movimento que teve início na década de 70 e que propôs um novo olhar onde a clínica põe a doença entre parênteses e vai buscar a emancipação da pessoa e não mais uma suposta cura; uma clínica que passe pela noção de identificar e referenciar a existência enquanto território criativo, pela produção de novas formas de vida e de mover-se pelo mundo. A partir do movimento de reforma houve todo um redirecionamento do modelo assistencial de cuidado em saúde mental em diversos países.
O sofrimento psíquico é multifatorial, isso significa que ele pode ser condicionado por diversos fatores como ambiente, determinantes e laços sociais, garantia de acesso à direitos, à informação e serviços, considerando alguns exemplos. Entretanto, embora cada pessoa seja única, podemos considerar que “transtorno mental é um problema de comunidades, não de cérebros” explica Joana Moncrieff, psiquiatra do Reino Unido. Desse modo, saúde mental deve ser considerada um bem coletivo e não uma questão individual ou de autocuidado como por vezes é ressaltado.
Aqui cabe ressaltar a relevância de um cuidado de qualidade que refere-se a outros modos de ser e fazer profissional e considera que cada pessoa passa por uma existência-sofrimento de uma maneira que lhe é ímpar, mas sempre conectada ao corpo social. Nesse contexto do surgimento de novas abordagens em saúde mental, o conceito recovery tornou-se importante ao redor do mundo para a compreensão das práticas de cuidado, valorizando especialmente as que incorporam protagonismo e visão crítica.

O movimento recovery tem dois princípios fundamentais: que pessoas com um transtorno mental (independente da severidade) podem viver uma vida produtiva, mesmo enquanto manifestando sintomas e que muitos vão se recuperar de seu transtorno mental. Lembrando que a recuperação é um processo pessoal que pode ser melhor descrita enquanto uma jornada de desenvolvimento e emancipação.
A abordagem de recuperação dentro do método Whole Life (Uma vida por inteiro) envolve o desenvolvimento de esperança, a reconstrução da identidade e pertencimento, cultiva relacionamentos de apoio e empoderamento, habilidades de enfrentamento e significado, potencializando assim a autodeterminação, autonomia, histórias de vida, forças humanas, esperanças e sonhos, conforme indicam experiências de comunidades internacionais com respaldo da Organização Mundial de Saúde (OMS). Uma saúde mental engajada política e filosoficamente é a retomada de uma força restauradora de caminhos e de r(existência).
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Luana Dallposso é bacharel em Serviço Social pela UnB e especialista em saúde mental pela ESCS/DF.










