*Por Luiz Henrique Piauhylino Monteiro – Certo alvoroço tem permeado os Três Poderes, sobretudo o Executivo. E não causaria estranheza se acaso fosse algo acerca de cargos e indicações partidárias, principalmente pela tão cobiçada vaga aberta para o Supremo Tribunal Federal (STF) em virtude da aposentadoria compulsória da ministra Rosa Weber.
Ou talvez a “Cabala” palavra de origem hebraica (Qabbalah) e que traz consigo diferentes interpretações explique tudo isso. Sendo sua prática um tipo de misticismo, crença na possibilidade da percepção, da identidade e da comunhão com a realidade superior, representada como divindade ou o próprio Deus, adequando-a ao nosso sincretismo religioso logo percebemos que por aqui também existem alguns deuses ou semideuses, claramente identificados a exemplo do todo poderoso Flávio Dino, atual ministro da Justiça e futuro ministro do STF, escolhido pelo presidente Lula, assim como manda a Constituição Federal.
Mas existe um detalhe: o presidente Lula perde a oportunidade de fazer jus a uma promessa de campanha, quando garantiu nomear ao posto uma jurista negra ou um jurista negro de notório saber, assim como ele fez em seu outro mandato, nomeando assertivamente o ministro Joaquim Barbosa, ele que contribuiu imensamente para a magistratura e democracia brasileira.

Recentemente, o presidente Lula decide pelos laços da amizade nomear uma pessoa de sua confiança pessoal para o STF, focando em garantir mais um interlocutor na Corte, sem demérito algum ao ministro Flávio Dino. Este, ao contrário de outros membros da atual Suprema Corte, foi juiz federal concursado por mais de 10 anos, chegando a presidir a Associação dos Juízes Federais (Ajufe), além de ser autor de vários livros de direito.
Dino deixou a carreira de juiz federal para se aventurar na política, onde foi facilmente eleito deputado federal, tendo em seguida governado o estado do Maranhão por duas vezes, além de senador atualmente licenciado para o exercício da função do prestigiado ministério da Justiça.
Ainda assim, não é visto como uma unanimidade pelos governistas. Suas qualificações, como as citadas acima, são inegáveis para assumir a pasta que não só o traz de volta à magistratura, mas numa volta triunfal ao topo da carreira de um juiz. A ele só faltará assumir a cadeira de presidente do STF, acontecimento previsível dada as suas habilidades. Será um fato.
Flávio Dino tem grandes chances de ser aprovado na sabatina do Senado, já confirmada para o próximo dia 13 de dezembro. Com a sua ida ao STF, ele deixa aberta uma importante vaga, talvez o mais importante ministério de qualquer governo, onde novamente a Cabala do Poder claramente se acentua entre deuses e semideuses, travando intermináveis batalhas para emplacar seus aliados.
E nesse contrassenso da política nacional, eis que emerge a surpreendente exoneração do ministro do Turismo, Celso Sabino, que se desvinculou do cargo na quinta feira (30/11), prazo limite para que os parlamentares protocolassem emendas ao orçamento.
Eu mesmo havia manifestado neste prestigiado jornal, em sua edição de 25 de agosto, no artigo “De volta para o passado”, que Celso Sabino havia assumido o Ministério do Turismo fazendo promessas completamente absurdas e inalcançáveis numa entrevista às páginas amarelas da revista Veja, tais como dobrar o número de turistas internacionais até o final do seu mandato.
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Então: onde estão os valiosos turistas prometidos? Celso teve um mandato pífio, marcado pela fraca agenda de realizações e nada a acrescentar, assim como a deputada a quem ele sucedeu, Daniela Carneiro, mais conhecida como Dani do Waguinho. Como pode uma importante pasta ministerial prosperar desta forma? O Brasil definitivamente não tem vocação alguma para o turismo.
Enquanto isso, Lula tem agora a difícil missão de acalmar os ânimos governistas. Estes que, diga-se de passagem, estão em uma verdadeira batalha ao poder, travada entre ministros e encabeçada por Rui Costa, o todo poderoso da Casa Civil. O presidente também tem pela frente a difícil missão de apaziguar a relação do Supremo Tribunal Federal com o Senado, considerando o surpreendente voto do líder do governo do PT no Senado, o senador Jaques Wagner (BA) a favor da PEC que proíbe decisões monocráticas de membros da Suprema Corte.
O texto é visto no Congresso como uma resposta a julgamentos recentes pelo Supremo que caberiam ao Parlamento. A nós, cabe a esperança de que Flávio Dino se desvincule da função política que exerce há mais de uma década, inclusive extinguindo de seu atual cotidiano comportamentos midiáticos e postagens controversas no Twiter, a exemplo do decano Gilmar Mendes.
Esperamos que ele volte a ostentar a toga da magistratura assim como já o fez, deixando de lado esse alinhamento visceral com a esquerda. É a Cabala do Poder!
*Luiz Henrique Piauhylino Monteiro é Economista, Pós Graduado em Gestão de Empresas e Piloto.