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Home Cultura

Antes de desfile, Elza Soares relembra ditadura: ‘povo está passivo demais’

Cantora terá sua vida contada no enredo da Mocidade

Ricardo Antunes Por Ricardo Antunes
23/02/2020 - 10:48
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Quando chegar a hora de dormir, neste domingo, o único plano de Elza Soares é ter uma boa noite de sono. Sentada na espaçosa sala de seu apartamento na Avenida Atlântica, em Copacabana, ela conta, numa tarde chuvosa, que essa vai ser sua preparação antes de desfilar a própria vida na Avenida. A cantora é enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel, penúltima escola a se apresentar na segunda-feira, e vai cruzar a Sapucaí no alto de um carro alegórico, “devidamente tronada”, como adianta o carnavalesco Jack Vasconcelos. “Acho que vou chorar bastante, porque será uma emoção muito forte para uma menina que nasceu em Padre Miguel e saiu lá da Vila Vintém”, prevê a homenageada.

Elza fala sobre isso e outros assuntos com a serenidade de quem leva a vida do jeito que lhe cai bem. Prestes a completar 90 anos — há controvérsias acerca da idade, sobre a qual ela não fala —, sua rotina inclui banhos de sol nua, sempre às 8h30m, munida apenas de chapéu, óculos escuros e filtro solar, na mesma sala envidraçada onde recebeu a reportagem da ELA. Também tem sessões de filmes de bangue-bangue na TV, às segundas-feiras. “Eu e Garrincha fazíamos isso juntos. Só não gosto quando tem índio, porque fico triste ao vê-los maltratados”, diz. Pequenos luxos de uma mulher com a carreira em plena ebulição. “Estou num momento muito precioso. Mas já venho lutando por isso há muito tempo”, reconhece, embora recuse o posto de diva. Com uma média de cinco shows por mês, uma exposição e um filme no horizonte, além de novos discos e turnês, a cantora do milênio, eleita pela Rádio BBC de Londres, não é afeita a saudosismos, mas respeita a sua história, marcada por muitas lutas e superações. “O que me chama atenção é o quanto ela é uma sobrevivente”, afirma Jack, ao entregar algumas de suas inspirações para a concepção do desfile. “Falamos sempre como Elza é sinônimo de resistência, mas essa luta sempre foi pela sobrevivência dela e dos filhos. Então, é como se ela mandasse uma mensagem para o planeta fome sobre o qual tanto fala.”

Elza veste penhoar Walério Araújo e chapéu Denis Linhares Chapelaria. Foto: Foto: Bob Wolfenson | Styling: Leo Belicha / Edição de moda: Patricia Tremblais | Beleza: Wesley Pachu | Assistência de fotografia: Gabriel Cicconi | Produção de moda: Erica Rosa e Kakatoy | Set Design: Ana Laura Coelho | Paisagismo: Eduarda Ribeiro / Pólen Flores e Plantas | Produção executiva: Matheus Martins | Agradecimento: LZ STUDIO, Wabi Sabi Ateliê, UBUD e Pólen Flores e Plantas | Tratamento de imagem: RG Imagem.
Elza veste penhoar Walério Araújo e chapéu Denis Linhares Chapelaria. Foto: Foto: Bob Wolfenson
A agremiação fez bastante segredo sobre o seu carnaval, mas o público pode esperar uma apresentação cronológica sobre a vida da artista, abrindo alas com referências às suas origens, com direito ao morro e à lata d’água na cabeça. Entre amigos e parentes, o coreógrafo Carlinhos de Jesus e o músico Pedro Luís são algumas das presenças confirmadas. Da parte da Elza, houve apenas uma exigência: uma homenagem aos professores, missão que foi reservada à ala dos compositores. “Pedi isso porque sou muito grata ao professor Hélio Alonso (fundador da Faculdades Integradas Hélio Alonso e morto em 2015). Ele abria as portas da instituição para muita gente e deu bolsas aos meus filhos”, relata a cantora. “Esses profissionais, para mim, são sagrados. A minha primeira professora foi a Dona Eulália. Eu tinha 5 anos, mas nunca me esqueci dela.”
A reverência aos educadores também parece estar associada a uma de suas maiores angústias em relação ao Brasil. “Fico aflita ao ver os jovens de hoje sem amparo”, lamenta. “Cadê a cultura? E os direitos deles? Saem na rua com medo de serem mortos. Se têm algum defeito, é porque não há ensinamento. Por isso, estou tão ligada a esse público, nos meus shows e nas redes sociais.”É a própria Elza, aliás, quem abastece suas contas no Twitter e no Instagram, por meio de mensagens de áudio disparadas à sua equipe, que são transformadas em posts. Os assuntos vão dos gols do Flamengo à crise hídrica no Rio, tema sobre o qual a cantora aproveita para dar um puxão de orelha nos brasileiros. “As pessoas estão meio passivas demais. Eu falei tanto nos meus shows que parecia que estavam colocando algum veneno na água do povo porque ninguém está indo às ruas protestar pelos seus direitos. Pelo visto, eu estava certa”, ironiza a cantora, que sempre interrompe suas apresentações quando alguém na plateia puxa gritos de “Ei, Bolsonaro, vai tomar no…”. “Detesto. Quem quer respeito se dá o respeito. Meu show não tem espaço para isso.”

A cantora Elza Soares Foto: Bob Wolfenson
A cantora Elza Soares Foto: Bob Wolfenson

A preocupação diante do cenário político é coerente com a sua história. Durante a ditadura militar, ela e Garrincha, com quem ainda era casada, precisaram deixar o Brasil depois de terem a casa onde viviam, no Jardim Botânico, metralhada. “Não sei quem foi o mandante, mas aconteceu justamente nesse período. Foi um momento muito ruim, minha gente”, diz, inclinando levemente o tronco em direção ao gravador. “Ver o Geraldo Vandré torturado daquele jeito é uma coisa que… Ai, nem dá para explicar.”

Elza e Garrincha se mudaram para a Itália em 1970, onde foram recebidos por Chico Buarque e Marieta Severo, já exilados no país. A atriz mantém vivas as memórias desse episódio: “A chegada deles representava, para nós, a vinda da ginga, da magia e de tudo o que o Brasil tem de melhor”. Marieta também se lembra do vigor da cantora, mesmo num momento difícil. “Guardo uma imagem dela animada e com muita força para enfrentar aquilo tudo”, descreve.

A pujança descrita por Marieta Severo é uma característica onipresente na história de Elza. Nem mesmo a morte de pessoas queridas, entre amigos, amores e quatro dos seus oito filhos, faz a cantora se dobrar diante das adversidades. “Não penso nisso. Faço de conta que nada aconteceu”, diz, num breve comentário sobre o assunto. “Passado é passado. Se você fica voltando sempre, não vai chegar a lugar algum. A meta é seguir em frente.”

Toda essa firmeza, ela reconhece, a acompanha desde os primeiros anos de vida. “Já nasci com esse vigor. Fui uma criança que sofreu muito, carregando lata d’água. Minha mãe é o meu exemplo. Tenho paixão pela Dona Rosália. Ela fazia não sei quantas lavagens de roupa por dia, e eu a vi com uma ferida que nunca mais cicatrizou por causa de uma lata que caiu sobre a sua perna. Vê-la carregando aquele peso todo me doía muito. Eu perguntava: ‘Deus, onde é que você está, que mesmo vendo tudo isso não ajuda a minha mãe e não me ajuda? Por isso que botei o título de um dos meus álbuns de ‘Deus é mulher’. Nunca vi uma mulher chamar tanto por Deus como eu.”

Vestido Victor Dzenk Foto: Bob Wolfenson
Vestido Victor Dzenk Foto: Bob Wolfenson

Da infância, Elza guarda a lembrança da ausência de panelas sobre o fogão. “Ia para a rua com a minha irmã e caía aos pés da primeira pessoa que encontrava, chorando e dizendo que havia perdido o dinheiro que a minha mãe tinha me dado para comprar pão. Aí eu acabava ganhando um trocado e levava comida para casa. Era uma criança astuta e inteligente”, orgulha-se, ao descrever os artifícios também usados para se deliciar com os inesquecíveis pastéis da Central do Brasil. “Minha mãe me dava o dinheiro da passagem, e eu ficava sentada na escadaria esperando. Mas o pastel cheirava tanto, que eu não resistia e comprava. Depois, abria o berreiro, dizendo que tinha perdido o dinheiro do trem, e as pessoas me davam. Até hoje, eu gosto de um pastel safado.”

Dessa mesma Central, porém, também partem memórias de alguns dos efeitos mais perversos do machismo, quando, ainda menina, homens ejaculavam sobre a sua roupa durante as viagens de trem. “Minha mãe tinha que descer comigo e entrar no banheiro para lavar a minha roupa que tinham sujado. Pelo amor de Deus, isso ainda acontece muito…. Como é pernicioso. Como isso é horrível e desagradável.”

Depois de um casamento forçado com o seu primeiro marido, aos 13 anos, Elza também vivenciou, na vida íntima, as truculências e os abusos masculinos. Mais tarde, enfrentou um julgamento implacável pelo seu relacionamento com Garrincha, quando foi injustamente chamada de “destruidora de lares” em programas de fofoca. O mesmo aconteceu diante de seus namoros com rapazes mais novos, alvo de uma ácida exploração midiática, sobre a qual ela não se abala. “Não erraram, estavam certos. Nada me incomoda, desde que não falem mal da minha mãe”, diz, reconhecendo-se uma feminista de raiz, justamente pela maneira como enfrentou todas essas situações. “Tenho falado sobre isso durante a vida toda.”

É do primeiro casamento que vem a confusão com a idade, segundo o jornalista e apresentador Zeca Camargo, autor da biografia “Elza”, lançada em 2018 pela editora Leya. “É uma data que não é muito certa, porque ela foi emancipada muito jovem. Pode ter 88, 89, 90…”, diz ele, ao passo que a cantora se faz irredutível quando perguntada sobre o assunto pela reportagem e diz não comemorar os seus aniversários. “Não é questão de esconder. Ela é uma pessoa que já transcendeu a idade”, comenta Zeca.

Robe Erica Rosa Atelier, vestido Victor Dzenk e chapéu Denis Linhares Chapelaria. Foto: Bob Wolfenson
Robe Erica Rosa Atelier, vestido Victor Dzenk e chapéu Denis Linhares Chapelaria. Foto: Bob Wolfenson

Para escrever o livro, o jornalista fez visitas semanais à cantora ao longo de oito meses e terminou a missão arrebatado pelo instinto maternal da entrevistada. “Ia à casa dela toda quinta-feira, às 19h, e imediatamente fui adotado. Ela é mãe de suas netas e foi mãe do Garrincha”, descreve Zeca, feliz ao ver como a agenda de sua biografada continua cheia. Afinal, mesmo depois de enfrentar duas cirurgias na coluna, Elza nunca deixou de superar as dores físicas para preencher palcos do mundo inteiro com a sua voz rasgada. “Ela não para. Brinco que está na hora de escrever um novo capítulo. É uma mulher que não olha para o passado, porque não quer reviver nada daquilo. Está mais interessada em construir todo dia alguma coisa.”

A cantora, que já substituiu Ella Fitzgerald numa turnê pela Europa e costumava receber João Gilberto em sua casa (“Ele levava o violão e ficava tocando para a gente cantar”), segue vibrante diante das novas possibilidades que a vida pode lhe oferecer. “Se tiver medo, será de mim mesma. Por enquanto, estou sem medo. Não quero perder meu tempo com isso. Tenho muita música para aprender ainda”, afirma.

Como pede o samba da Mocidade: Abram os caminhos para Elza passar.

Fonte: Eduardo Vanini, de O Globo
Tags: AutoritarismoBolsonarismoDemocracia
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Ricardo Antunes

Ricardo Antunes

Ricardo Antunes é jornalista, repórter investigativo e editor do Blog do Ricardo Antunes. Tem pós-graduação em Jornalismo político pela UnB (Universidade de Brasília) e na Georgetown University (EUA). Passou pelos principais jornais e revistas do eixo Recife – São Paulo – Brasília e fez consultoria de comunicação para diversas empresas públicas e privadas.

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