O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou nesta sexta-feira que a transmissão do novo coronavírus continuará a crescer até maio e junho e só terá uma “queda brusca” a partir de setembro. De acordo com Mandetta, essa queda será similar à que está sendo vivenciada no momento na China, onde o vírus surgiu. Hoje o Brasil contabiliza 904 casos confirmados, com 11 mortes, 9 em São Paulo e 2 no Rio de Janeiro.
— A gente imagina que ela vai pegar velocidade e subir na próxima semana ou 10 dias. A gente deve entrar em abril e iniciar a subida rápida. Essa subida rápida vai durar o mês de abril, o mês de maio e o mês de junho, quando ela vai começar a ter uma tendência de desaceleração de subida. No mês de julho ela deve começar o platô. Em agosto, esse platô vai começar a mostrar tendência de queda. E a queda em setembro é uma queda profunda, tal qual foi a queda de março na China — explicou o ministro durante uma reunião com empresários, realizada por videoconferência.
Mandetta ainda disse que o sistema de saúde brasileiro deve entrar em “colapso” em abril, explicando que o termo se refere a uma situação onde não é possível conseguir atendimento médico — esse seria o cenário atual da Itália, que superou a China em número de mortos.
— Claramente no final de abril nosso sistema entra em colapso. O que é um colapso? Às vezes as pessoas confundem colapso com sistemas caóticos, com sistemas críticos, aonde você vê aquelas cenas, pessoas nas macas. O colapso é quando você pode ter o dinheiro, você pode ter o plano de saúde, pode ter a ordem judicial, mas simplesmente não há um sistema para você entrar. É o que está vivenciando a Itália, um dos países de primeiro mundo, atualmente, não tem aonde entrar.
No final da reunião, no entanto, o ministro adotou outro discurso, afirmando que não haverá colapso:
— Teremos problema? Teremos. Sei que teremos. Aqueles que eventualmente aplaudem hoje vão jogar pedra daqui a um mês, dois meses. Mas nós não vamos deixar ninguém para trás e vamos trabalhar muito duro. Talvez no final a gente saia muito orgulhoso do nosso SUS. Nós vamos ter estresse, mas vamos passar por essa sem colapso.
Mais tarde, em uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto, Mandetta foi questionado sobre a declaração anterior e disse que o “colapso” é apenas um cenário que pode ser evitado:
— É um cenário. Nós podemos ter vários graus de problemas, vamos monitorá-los diuturnamente e trabalhar com todos, com secretários municipais, estaduais, médicos, todo o pessoal de saúde, para que não tenhamos um colapso.
‘Fora de controle’, diz médico a ministro
Durante a reunião, o superintendente do Hospital do Rim, José Medina, afirmou que a situação vai ficar “fora do controle” em breve, quando a o vírus chegar com mais força nos mais pobres. Medina ressaltou que essas pessoas têm dificuldade de fazer isolamento e necessitam mais do Sistema Único de Saúde (SUS).
— Até agora o número de pacientes, que estão internados, que faleceram, eram pacientes que viajaram para o exterior ou que pacientes que receberam alguém do exterior e conversaram com eles. Então, são pessoas de classe média ou classe média alta. Então, essas pessoas que estão internadas, quase lotando os hospitais privados. Já começou, agora hoje no hospital do rim tivemos dois casos, já começou a disseminação nos pacientes mais da periferia, que tem menos recursos e que são pacientes do SUS. Vão lotar, como o ministro faltou, vai ficar fora do controle, como está na Itália. O momento agora é de ver como nós vamos poder atender esses pacientes.
Media sugeriu utilizar escolas e outros prédios para realizar o isolamento dessas pessoas:
— O número de pacientes que vai aparecer na semana que vem e nos próximos 15 dias é muito grande. E quando está conversando entre nós, que temos convênio, que estamos viajando para o exterior, quando precisa de isolamento, eu tenho um quarto na minha e eu faço isolamento. Agora, quando eu pego um paciente do SUS e falo: “você precisa ficar isolado dentro da sua casa”, onde ele mora com um número muito grande de pessoas, não tem (lugar) para fazer esse isolamento. Então, talvez nós precisamos mobilizar escolas, outras instituições para fazer isolamento dessas pessoas, para que eles não transmitam para o resto da sua família e daí a transmissão para toda a comunidade dele fica muito acentuada.
Em resposta, Mandetta afirmou que o Brasil teve mais tempo para se preparar do que a Itália, citada pelo médico como exemplo do que acontecerá aqui, e afirmou que o SUS tem “capilaridade”.
— Nós tivemos uma vantagem, pequena, de saber com 60 dias antes qual era algumas das características desse inimigo. A Itália foi o primeiro país ocidental a descobrir isso — disse, acrescentando depois: — Esse sistema tem capilaridade, em todas as cidades nós temos unidade de saúde. Nós temos 46 mil equipes de saúde da família. 85% dos casos que têm sintomas são leves. Nossa população é muito mais jovem.
Por O Globo







