Por Marcos Lima – Há 22 anos que um grupo de ex-presos políticos da época da Ditadura Militar no Brasil, sob a direção do jornalista e poeta Marcelo Mário de Melo, se reúnem nas Quartas-feiras de Cinzas, antes de retornarem aos seus locais das atuais moradias.
O dia foi escolhido para aproveitar a vinda de muitos deles que, apesar de serem pernambucanos – ou filhos de – encontram-se hoje fora de Recife e vêm aqui passar o Carnaval.
O primeiro desses encontros aconteceu em 2001 e este ano estão realizando o 22º porque nos anos de 2021 e 2022 o sarau não se realizou, por conta da pandemia da Covid-19.
Segundo Marcelo Mário, “a ideia surgiu a partir da vontade de encontrar os amigos que tinham, como ele, passado pela triste experiência da prisão durante os anos 60 e 70”. Os homenageados deste ano são Alberto Vinícius Melo do Nascimento e Nanci Lourenço Soares.

O engenheiro mecânico Alberto Vinícius, que faleceu em Recife, aos 77 anos, foi preso durante a ditadura militar, por sua atuação na luta pela democracia. Ele presidiu a Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase), no governo de Eduardo Campos (2008-2012).
Nanci, já falecida, ex-esposa do sociólogo José Arlindo Soares, foi uma das primeiras pessoas a denunciar o trabalho escravo infantil, praticado nas usinas de açúcar da Zona da Mata pernambucana. Ela deu um importante impulso à luta contra o abuso da mão de obra de crianças, promovendo ações de repressão, em parceria com instituições locais.

Sua atuação foi reconhecida pelo então ministro do Trabalho, Jacques Wagner, consolidando-se como uma das principais referências no combate à exploração infantil no Brasil, encabeçando, com o juiz Hermilo Borba Filho e o Legio Arcoíris, importantes campanhas que resultaram na criação do Bolsa Escola.
O evento se realizará no Restaurante Dùn Ajeun, localizado à Rua da Santa Cruz, 174, no bairro da Boa Vista, a partir das 12h, com um almo e, em seguida, terão início as homenagens, com muita música, recitais de poesias e com o microfone aberto e livre para quem quiser prestar a sua homenagem, de alguma forma.
Tainá Passos, a proprietária do restaurante onde ocorrerá o evento, considera que “um evento dessa natureza é importante para fazer com que as pessoas não esqueçam aqueles que foram torturados, presos e mortos, simplesmente por lutarem pela liberdade e pelo fim da ditadura no País”.
“Ações como esta, ao mesmo tempo, também são uma homenagem aos negros que, como esses mártires, também foram torturados, presos e mortos e, quando realizadas, conseguem agregar todas as pautas de inclusão, como um aluta afirmativa e sem fim, porque a dor dos que ficaram, alguns até sem saber o verdadeiro fim de seus entes queridos, não tem fim jamais”, completou a comerciante.