Por Marcos Lima – Aquela velha promessa: “Até quarta-feira, meu bem!”, não funciona em Pernambuco, durante o Carnaval. Por várias cidades os festejos de Momo ainda continuam fervilhando.
Uma dessas é Olinda, que ainda reserva uma programação especial para a Quarta-feira de Cinzas, para os foliões que querem aproveitar as últimas horas da festa.
Dois blocos tradicionais são responsáveis pelo alongamento das festividades do Carnaval, na Marim dos Caetés: o Munguzá de Zuza Miranda & Thaís e o Bacalhau do Batata.
Bloco Munguzá de Zuza Miranda & Thaís
O Bloco Munguzá de Zuza Miranda & Thaís comemora 30 anos de história e tradição. A concentração aconteceu em frente à Igreja da Sé, a partir das 6h da manhã, quando os foliões se reuniram para saborear o tradicional munguzá, antes da saída oficial do bloco às 8h. há quem diga, também, que a maioria dos foliões vão se abastecer no Munguzá de Zuza e Miranda para chegarem fortalecidos no Bacalhau do Batata.
Com tradição em Olinda, o Munguzá do Zuza Miranda & Thaís foi servido, na manhã desta quarta-feira de cinzas (5), para centenas de pessoas, em frente à Igreja da Sé.
Ao todo, foram 2 mil litros da tradicional e nutritiva comida de milho, que ajuda na digestão, melhora o colesterol e diminui o risco de doenças cardiovasculares.
Neste ano, o bloco comemora 30 anos de existência. Segundo os fundadores, o casal de músicos Silvio (Zuza) e Thaís Miranda, tudo começou quando eles tocavam, em Bairro Novo, e atraíram o carinho do público.
“Minha avó sempre me dava essa receita e eu repliquei. Leva leite de coco e tudo mais. Naquele ano [em 1995] trouxemos apenas um panelão e foi um sucesso. Não paramos e aumentamos a quantidade. É sempre uma brincadeira boa que vira realidade, com muito amor à cultura popular tradicional de Olinda”, relatou Zuza Miranda.
Quem prova da iguaria, quer mais. A manicure Karina Silva, de 45 anos, mora no município desde o nascimento e esta foi a primeira vez que ela foi ao bloco.
“Eu me dei o luxo de vir aqui, hoje, e estou adorando. O sabor do munguzá é aquele gostinho do tempo da avó, de casa e é bem familiar. Dá para ver que foi feito com muito amor e carinho. Este é o segundo copo que eu peguei”, relatou ela.
Bacalhau do Batata
Já o Bacalhau do Batata, criado em 1962, é um dos blocos mais emblemáticos da Quarta-feira de Cinzas, em Olinda. Fundado por Isaías “Batata” Ferreira da Silva, um garçom que trabalhava durante o Carnaval e não podia aproveitar a festa, o bloco se tornou um símbolo de resistência e alegria.
O bloco. com o estandarte representando um bacalhau e outros alimentos, sai pelas ladeiras de Olinda arrastando uma multidão de foliões na quarta-feira de cinzas, encerrando oficialmente o Carnaval. O percurso do desfile segue a tradição: ladeira da Sé, Rua do Bonfim, Quatro Cantos, Ribeira, Varadouro, Largo do Amparo, com o retorno sendo feito no bairro do Carmo. A festa fica por conta de excelentes orquestras de frevo de Olinda que, este ano, conta com uma feminina, com 30 integrantes, e uma masculina, com 40 músicos e, é óbvio, o mais importante que é a presença ilustre do boneco gigante que representa o falecido Batata.
A concentração do Bacalhau do Batata acontece no Alto da Sé, por volta das 8h, e o percurso é concluído em frente à Igreja do Carmo.
“Meu tio, quando fundou o bloco, fez para os garçons, porque na época ele era garçom. Depois, a gente foi mudando, fazendo diferente, mas não deixou mudar a tradição. O bloco é dos garçons”, contou Fátima Araújo, presidente do bloco e sobrinha de Isaías.
O bloco foi um dos precursores da ideia de finalizar o Carnaval na quarta-feira pois, antes, a festa encerrava ainda na madrugada. “O Bacalhau do Batata é cultura em Pernambuco. Ele sempre foi cultura. Na quarta-feira era tudo cinza, e ele (Isaías) criou o Carnaval”, concluiu.
Homenagens
O Bacalhau do Batata se tornou referência para muitos carnavais e, inclusive, já foi homenageado pelo carnaval do Rio de Janeiro. A Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense, em 2007, dedicou uma das Alas do desfile carnavalesco a Isaías, destacado também no figurino dos compositores da escola, que usavam trajes de garçons.
Este ano, o Bacalhau do Batata foi um dos homenageados do maior bloco de rua do mundo, O Galo da Madrugada, que se apresentou no sábado (1º) com o tema “Pernambuco: do Galo ao Bacalhau, Viva o Carnaval!”.









