Do Estadão – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) realiza no próximo domingo, 6, na Avenida Paulista, a primeira manifestação de rua após ter se tornado réu no Supremo Tribunal Federal (STF). O ato, que tem como mote a anistia aos condenados pelos atos golpistas 8 de Janeiro, será um teste decisivo da capacidade de Bolsonaro levar à população às ruas após o protesto esvaziado na praia de Copacabana em março. Nas redes sociais, a convocação mira especialmente o público feminino ao ressaltar o caso da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos e o batom utilizado por ela para pichar a estátua “A Justiça”.
O histórico recente aponta uma desmobilização do bolsonarismo. O melhor público foi de 185 mil pessoas na Paulista em fevereiro de 2024, dias após o ex-presidente ter o passaporte apreendido pela Polícia Federal. Meses depois, 45,4 mil manifestantes foram ao ato de 7 de Setembro na mais famosa avenida de São Paulo — um quarto do total.
No Rio de Janeiro, 64,6 mil pessoas foram ao 7 de setembro de 2022, quando Bolsonaro ainda era presidente e estava em campanha pela reeleição. No último dia 16 de março, compareceram 18,3 mil pessoas no ato pela anistia. Os dados são do Monitor do Debate Político da Universidade de São Paulo (USP), que também tem mostrado dificuldade da esquerda em mobilizar as ruas.
A previsão do tempo para domingo é de pancadas de chuva e trovoadas isoladas na cidade de São Paulo, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O órgão emitiu alerta laranja para chuvas intensas em cidades do Estado, inclusive a capital paulista. O aviso é válido até sexta-feira, 4, mas pode ser prorrogado. O alerta significa risco de corte de energia elétrica, queda de galhos de árvores, alagamentos e descargas elétricas.
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“A presença do povo na Paulista será um termômetro para a anistia. A presença de vocês vai dar força pra gente vencer resistências, votar e aprovar a lei da anistia. Vocês que forem à Paulista estão sendo, de verdade, os responsáveis pela libertação dessas pessoas humildes. Da Débora, da missionária Eliene, entre tantos outros”, disse Bolsonaro na quarta-feira em entrevista ao canal AuriVerde Brasil.
O PL pressiona para que o projeto da anistia seja pautado na Câmara dos Deputados. O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que o momento é de “equilíbrio”. O Placar da Anistia, levantamento exclusivo do Estadão, aponta que havia até quinta-feira, 3 de abril, 196 votos favoráveis à proposta. Para um projeto de lei ser votado na Casa legislativa, é preciso haver pelo menos 257 deputados na sessão. O texto é aprovado com votos da maioria simples, ou seja, maioria dos presentes.
Uma mudança em relação às últimas manifestações é o esforço para que governadores de direita, mas não necessariamente bolsonaristas, marquem presença — a lista inclui pré-candidatos a presidente.
Bolsonaro se envolveu pessoalmente neste ponto. Ele ligou para Romeu Zema (Novo-MG), que aceitou o convite e foi incluído na lista dos que discursarão no evento — entre os governadores, a princípio apenas Tarcísio de Freitas (Republicanos) também discursará. Zema passou a defender de forma mais enfática a anistia nas últimas semanas e publicou um “hino gospel” em suas redes sociais como apoio à medida.
Ratinho Júnior (PSD-PR) era cotado para ser o outro chefe de governo estadual a falar, conforme o pastor Silas Malafaia, coordenador do evento, disse ao Estadão. A assessoria do governador paranaense informou, no entanto, que ele viaja para os Estados Unidos na noite de domingo e não estará na Paulista. Ratinho e Bolsonaro almoçarão juntos em Curitiba (PR) na sexta-feira.
O governador Eduardo Riedel (PSD-MS) foi convidado por Bolsonaro durante entrevista a uma rádio de Campo Grande (MS). O governador sul-mato-grossense não havia confirmado presença até a noite de quarta-feira, mesmo caso de Cláudio Castro (PL-RJ), Ronaldo Caiado (União-GO) e Mauro Mendes (União-MT). Por outro lado, Jorginho Mello (PL-SC), anunciou que estará na Paulista.
Um deputado bolsonarista disse ao Estadão que uma presença maior dos governadores no domingo é uma evidência de que eles querem aparecer e mostrar apoio ao ex-presidente que está em situação difícil. Zema, Caiado e Ratinho são pré-candidatos a presidente, enquanto Tarcísio, cotado como sucessor de Bolsonaro, e Riedel caminham para disputar a reeleição. Segundo ele, há caravanas saindo de Estados próximos, como Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e do interior paulista.

Organização mira público feminino e mulheres farão parte dos discursos
Uma das estratégias da organização é direcionar a convocação ao público feminino e utilizar como símbolo o caso da cabeleireira Débora, presa por escrever “Perdeu, mané” na estátua “A Justiça” no 8 de Janeiro — ela foi detida em março de 2023 e migrou para prisão domiciliar na sexta-feira, dia 28 de março, após decisão do ministro Alexandre de Moraes.
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) e outras expoentes do bolsonarismo gravaram um vídeo em que utilizam um batom para escrever “Anistia já” em blusas brancas. Elas afirmam que as palavras escritas com o cosmético “foram facilmente apagadas” da estátua. “O que jamais será apagado são as marcas profundas causadas pela injustiça de homens poderosos”, diz Michelle na gravação.
As mulheres terão destaque nos discursos durante o ato. Uma das novidades será a vice-prefeita de Dourado (MS), Gianni Nogueira (PL). “O batom e a Débora são uma representação de todas as injustiças [dos julgamentos do 8 de Janeiro]. Nós temos um País com leis e não podemos virar um faroeste, uma terra sem leis”, declarou ela.
Gianni foi lançada pelo próprio Bolsonaro no mês passado como pré-candidata ao Senado por Mato Grosso do Sul na eleição de 2026. Uma das prioridades do ex-presidente é eleger senadores suficientes para controlar a Casa e realizar o impeachment de ministros do STF.
Além dela e da ex-primeira-dama, discursarão no ato a deputada federal Caroline de Toni (PL-SC) e uma “representante católica” cujo nome não foi mencionado por Bolsonaro. O ex-presidente encerrará o evento, como de praxe, precedido por Malafaia, Tarcísio, Zema, deputados Nikolas Ferreira (PL-MG), Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), Rodrigo Valadares (União-SE), relator do projeto da anistia, e Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição no Senado.









