*Por Ricardo Antunes – A incerteza domina a economia brasileira nesta noite da quarta-feira (9). O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump anunciou tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros, a partir de 1º de agosto, em resposta a alegações de censura a plataformas de mídia social americanas e práticas comerciais consideradas desleais.
A medida, detalhada em carta ao presidente Lula da Silva, intensifica as tensões entre os dois países e ameaça setores-chave da economia brasileira, como o agronegócio e, por consequência, a arrecadação federal.
A medida foi seguida de ordem para o Representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, iniciar Investigação Seção 301, para avaliar outras barreiras comerciais ao Brasil.
Trump justificou a medida como ajuste necessário para equilibrar a relação comercial. E também acusou o governo brasileiro de emitir ordens ilegais de censura contra empresas americanas, como parte de uma política prejudicial a liberdade de expressão.
Trump indicou que as tarifas podem ser revisadas dependendo da cooperação brasileira, mas a ameaça de sobretaxas adicionais mantém o mercado em alerta. Vamos tentar decifrar as principais consequências para o Brasil desse tarifaço.
Impacto no Agronegócio.
— O setor agrícola, que responde por mais de 40% das exportações brasileiras, enfrentará um golpe significativo.
Produtos como soja, carne bovina, frango e milho, que geraram US$ 10,5 bilhões em vendas aos EUA em 2024, devem perder competitividade.
A soja (US$ 6,5 bilhões exportados) e o milho (US$ 1,2 bilhão) estão entre os mais afetados. A carne bovina e de frango (US$ 2 bilhões) também serão diretamente afetados. Frigoríficos como JBS e Marfrig já preveem quedas de até 25% nas exportações americanas.
Produtores em Mato Grosso e Paraná relatam consultas emergenciais para redirecionar cargas. “Podemos perder até R$ 120 bilhões anuais se o mercado americano fechar”, estima um líder da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que projeta reduções de demanda de 30% no curto prazo.
A medida forçará produtores brasileiros a sair em busca de outros mercados menos rentáveis como alternativa, negociando em desvantagem competitiva, vendendo a preços inferiores dada a situação emergencial.
Analistas apontam que a desvalorização do real pode aliviar custos de exportação, mas não compensa a perda de acesso ao segundo maior parceiro comercial do Brasil.

Impacto na Bolsa
Analistas preveem volatilidade nos próximos dias, com investidores atentos às negociações entre Brasil e EUA. A B3, principal bolsa de valores brasileira, sentiu imediatamente os efeitos da sanção. O Ibovespa, índice de referência, fechou o pregão de hoje em queda de 1,8%, aos 125.300 pontos, com perdas lideradas por ações de empresas do agronegócio e exportadoras.
Ações da JBS caíram 3,5%, enquanto a SLC Agrícola recuou 2,7%, refletindo preocupações com a redução de mercados.
O dólar subiu 1,7%, alcançando R$ 5,52, pressionando empresas com dívidas em moeda estrangeira.
Impacto no E-Commerce
O comércio eletrônico, que movimentou R$ 225 bilhões em 2024, também está sob pressão. A investigação Seção 301 pode levar a sanções contra empresas brasileiras acusadas de práticas desleais, como bloqueios de plataformas ou restrições a pagamentos internacionais. Especialistas temem que isso desestimule investimentos estrangeiros, especialmente em um setor projetado para crescer 10% em 2025.
Impacto no Turismo
O setor de turismo, que recebeu 6,8 milhões de visitantes internacionais em 2024, incluindo 800 mil americanos, pode enfrentar uma queda significativa.
Agências relatam que cancelamentos de pacotes para destinos como Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu, representarão uma perda estimada de R$ 2 bilhões na receita anual.
A desvalorização do real pode atrair turistas de outros países, mas a percepção de instabilidade política e econômica pode afastar os EUA, principal emissor de turistas de longa distância.
Impacto no Congresso
No Congresso Nacional, a medida gerou reações imediatas. Líderes da oposição, como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), criticaram o governo Lula, chamando a sanção de “resultado da diplomacia fraca”. Já a base aliada, representada pelo deputado José Guimarães (PT-CE), defendeu uma resposta firme, propondo retaliações comerciais.
Uma sessão extraordinária foi marcada para amanhã, quinta-feira, às 10h, para discutir estratégias, com pressão para aprovar medidas de apoio ao agronegócio e negociar com os EUA.
O governo Lula convocou o encarregado de negócios dos EUA, Gabriel Escobar, para esclarecimentos, enquanto o Itamaraty classifica a medida como uma “ingerência inaceitável”.
Líderes do agronegócio pressionam por negociações rápidas, sugerindo ajustes nas tarifas e pedindo para o Brasil abrir mercados e eliminar barreiras.
O resto da semana promete. A ver.









