Do Globo — Morreu nesta segunda-feira, aos 74 anos, o jornalista Marcelo Beraba. Um dos idealizadores e primeiro presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Beraba iniciou a carreira de repórter no GLOBO, em 1971, e também teve passagens por Estadão, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil e TV Globo.
Beraba se formou em jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Aos 20 anos, ainda estudante, começou a atuar como repórter do GLOBO, onde permaneceu até 1984, com passagem marcante pela editoria de Polícia. À época, Beraba participou da modernização da cobertura policial, sob a batuta do então diretor de redação do GLOBO, Evandro Carlos de Andrade, que abriu espaço a uma nova geração de repórteres.
Em um furo jornalístico nos anos finais da ditadura militar, Beraba conseguiu com exclusividade imagens da cirurgia, no Hospital Miguel Couto, do coronel Wilson Machado, um dos responsáveis pelo atentado do Riocentro, em 1981. Uma das bombas, que seriam plantadas pelos militares em um evento comemorativo pelo Dia do Trabalho, explodiu antes do planejado e feriu Wilson no baixo ventre, frustrando o atentado.
As imagens obtidas por Beraba, publicadas na primeira página do GLOBO em 6 de maio de 1981, ajudaram a comprovar o envolvimento dos militares no plano terrorista e contribuíram para consolidar o processo de abertura democrática, que ainda dava seus primeiros passos àquela altura.

Em 1984, Beraba foi contratado pela Folha de S. Paulo, e no ano seguinte foi promovido a diretor da sucursal do Rio do jornal. Na Folha, participou de coberturas históricas, como a do vazamento na usina nuclear de Angra dos Reis, em 1986. No início da década de 1990, atuou como secretário de redação da Folha em São Paulo.
Voltou ao Rio em 1996, para ser editor-executivo do Jornal do Brasil, e teve ainda uma passagem pela TV Globo, como editor do Jornal da Globo, antes de retornar à Folha, em 1999, para dirigir novamente a sucursal carioca. Ainda na Folha, foi ombudsman e repórter especial, até migrar em 2008 para o Estadão.
Beraba foi diretor das sucursais do Estadão no Rio e em Brasília e editor-chefe, até se aposentar das redações em 2019, após 48 anos de carreira.
A iniciativa de fundar a Abraji ocorreu após o assassinato do jornalista Tim Lopes, da TV Globo, em 2002. Lopes foi capturado e torturado por traficantes enquanto fazia uma reportagem sobre prostituição de menores em bailes funk.

Comovido e irresignado, Beraba enviou emails a repórteres e editores dos principais veículos do país convidando-os a formarem uma associação, independente, “voltada para a troca de informações entre nós, para a formação profissional, para o aprofundamento dos conhecimentos e uso de ferramentas na área do jornalismo investigativo”. À época, Beraba também estimulou debates entre colegas sobre os riscos da cobertura policial e a necessidade de medidas para mitigá-los, para dar maior segurança a jornalistas.
A Abraji foi fundada em dezembro daquele ano, por cerca de 150 jornalistas, que escolheram Beraba como seu primeiro presidente. Ele permaneceu à frente da entidade até 2007. Nesse período, recebeu o prêmio Excelência em Jornalismo oferecido pelo ICFJ (International Center for Journalism), nos Estados Unidos, em 2005.
Nas redações por onde passou, Beraba ficou conhecido como um chefe exigente e repórter inquieto, que sempre soube valorizar as grandes coberturas e as matérias investigativas. Priorizou sempre a linguagem clara e direta, tanto no trato com os colegas, quanto nos textos das reportagens, e fazia questão de que as páginas sob sua responsabilidade fossem pautadas por senso crítico e apuração fidedigna dos fatos.
Beraba casou-se com a também jornalista Elvira Lobato, com quem teve uma filha, Cecilia.









