Do Poder 360 – O gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), teria vasculhado as redes sociais de presos do 8 de Janeiro e usado posts compartilhados por essas pessoas, às vezes anos antes dos ataques às sedes dos Três Poderes, para decidir se deveriam continuar presas ou ser liberadas, segundo uma reportagem produzida pelos jornalistas David Ágape e Eli Vieira e publicada no Public, site de Michael Shellenberger, autor do Twitter Files Brazil.
De acordo com o texto divulgado em 4 de agosto de 2025, Ágape e Vieira procuraram o STF, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a PGR (Procuradoria Geral da República), o Exército, Moraes e pessoas citadas em prints de grupos de WhatsApp para pedir uma manifestação sobre o caso. Eles publicaram que nenhum dos lados procurados respondeu.
Em 8 de janeiro de 2023, depois da baderna e quebra-quebra em prédios públicos na Praça dos Três Poderes, os manifestantes foram todos conduzidos de volta para um acampamento em frente ao Quartel General do Exército em Brasília, também conhecido como Forte Apache do Exército. Na manhã seguinte, todos foram presos. Eram cerca de 1.200 pessoas.
Foi preciso então justificar de alguma forma a manutenção de todas as detenções. Por essa razão, o ministro Alexandre de Moraes determinou a integrantes de seu gabinete que fossem vasculhados os passados recentes de cada um dos detidos.
A ideia era verificar se tinham histórico criminal e também encontrar outros elementos que pudessem sustentar as prisões –uma vez que era impossível saber quem no dia anterior de fato havia depredado ou invadido prédios públicos. É que algumas pessoas haviam apenas ficado na Praça dos Três Poderes, gritando palavras de ordem, mas sem provocar danos materiais.
A reportagem afirma que integrantes do gabinete de Moraes passaram então a usar publicações dos presos em redes sociais para determinar se cada um deles tinha “certidão positiva” ou “certidão negativa”. O termo “positiva” seria entendido como “perfil suspeito” –por exemplo, posts criticando ou questionando o resultado da eleição presidencial de 2022, questionando a integridade de urnas eletrônicas ou com manifestações contra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou a favor de Jair Bolsonaro (PL).
Os jornalistas dizem que dos registrados analisados aos quais tiveram acesso, 42 pessoas receberam certidões “positivas”, e 277, “negativas”. Eles afirmam também que nenhum preso com uma certidão “positiva” foi liberado.
Segundo Ágape e Vieira, foi possível confirmar a autenticidade de 69 certidões. Eles informaram, no entanto, que não vão divulgar as íntegras por “conterem dados pessoais confidenciais dos investigados”.
Não é possível verificar de forma independente a autenticidade das certidões e das conversas de WhatsApp mostradas na reportagem do site Public. Em casos assim, é comum um veículo de mídia jornalística divulgar as íntegras com tarjas sobre os dados sensíveis –o que não foi feito.
O texto diz também que o gabinete de Moraes utilizou o sistema de biometria do TSE com dados de eleitores de todo o Brasil para identificar manifestantes em fotos dos atos do 8 de Janeiro. A autorização teria sido emitida por Moraes, à época presidente da Corte.
Procurado pela reportagem, o TSE não se manifestou.
Ágape e Vieira citam em seu texto alguns casos de presos do 8 de Janeiro que receberam uma certidão “positiva” e quais posts foram identificados em seus perfis nas redes sociais para que fossem considerados nessa categoria e assim permanecer detidos.









