O Globo – O novo coronavírus deu, na última semana, uma amostra de seu potencial de destruição — a quantidade de mortos e infectados se multiplicou em sete dias. Ontem, os óbitos chegaram a 1.056 — número três vezes maior do que na sexta-feira passada, quando eram 359. Já a quantidade de contaminações passou de 9.056 para 19.638 no mesmo período.
O avanço dos casos bate à porta dos hospitais, que caminham a passos largos para o colapso. Em São Paulo, epicentro da pandemia no país, o sistema de saúde poderá perder a capacidade de internação em dez dias, se a população não seguir políticas de isolamento social. No final de março, 69% da população do estado aderiu à quarentena decretada pelo governo estadual — a meta era que esse índice chegasse a 80%.
No entanto, o engajamento diminuiu, e na última quinta-feira apenas 47% dos paulistas cumpriam a orientação das autoridades. A curva de novos casos, que chegou a caminhar para o achatamento, está aumentando.
— Se o número de casos continuar crescendo nessa velocidade, o sistema de saúde estará incapaz daqui a dez dias, duas semanas — alerta Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan e um dos integrantes do comitê formado pelo governo paulista para administrar a crise, que não descarta o uso da Polícia Militar para evitar aglomerações. — É necessário estudar formas de tornar mais forte esse isolamento social. Devemos anunciar, ao lado do (governador) João Doria, novas medidas, se for o caso.
O estado de São Paulo tem 12.546 leitos de UTI públicos e privados, e a taxa de ocupação atual gira em torno de 50%. Boa parte dos leitos é ocupada por casos cotidianos. A taxa de ocupação de UTIs por vítimas do coronavírus vem aumentando a um ritmo de 20% por dia. Na quarta-feira passada, eram 861.
Falta de respiradores
No Rio, 65% dos leitos de UTI estão ocupados, mas os casos avançam e já há temor de que a rede não dê conta. O hospital de referência Ronaldo Gazolla, com 38 vagas, está com a capacidade esgotada. O secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, diz que a rede estadual suporta até 16 mil internações, mas não descarta que uma aceleração de casos leve a infecção a 40 mil ou 50 mil doentes, inviabilizando o atendimento.
Em nota enviada ao GLOBO na manhã deste sábado , a Secretaria Municipal de Saúde diz que a unidade municipal de referência no atendimento aos pacientes com coronavírus não está com sua capacidade esgotada e que a Prefeitura do Rio abriu mais leitos no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari.
“Já são 150 leitos abertos, sendo 50 de terapia intensiva. Esse número será ampliado progressivamente até a capacidade de 381, dos quais 201 serão de UTI (182 para adultos e 19 para crianças e adolescentes). Nesta sexta-feira, havia 38 pacientes internados na UTI. Desde o dia 23 de março o Ronaldo Gazolla está totalmente dedicado ao coronavírus, passando por obras de adaptação e ampliação dos leitos.”







