Do Uol – Aliados de Jair Bolsonaro (PL) têm priorizado explorar o que chamam de “perseguição religiosa” para criticar a prisão preventiva do ex-presidente.
“Oração não é crime”, disse Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente. Nas redes sociais, o senador faz referência a um dos motivos citados na decisão que determinou a prisão de Bolsonaro: o chamamento dele para uma vigília em frente ao condomínio em que o pai mora.
Deputados e senadores da oposição afirmaram que Bolsonaro foi preso por causa de uma “oração”. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), chamou o ministro do STF Alexandre de Moraes de “psicopata” por citar como um dos motivos para a prisão a vigília convocada por Flávio.
O entendimento da PF e de Moraes é de que a vigília causaria aglomerações em frente à casa do ex-presidente. O que, segundo as autoridades, geria risco para Bolsonaro e para terceiros. Para Moraes, Flávio usou “do mesmo modus operandi, empregado pela organização criminosa que tentou um golpe de Estado em 2022, utilizando a metodologia da milícia digital para disseminar por múltiplos canais mensagens de ataque e ódio contra as instituições”.
Ao se pronunciar pela primeira vez ontem, Flávio argumentou que o ministro “criminaliza o livre exercício da crença”. Em discurso transmitido ao vivo, o senador ainda pediu para que pastores e padres falassem sobre o caso durante os cultos e missas em suas igrejas hoje. O filho do ex-presidente aproveitou para anunciar que a vigília estava mantida.
Os apoiadores de Bolsonaro não citam com a mesma frequência outro motivo usado na decisão da prisão. O ministro do STF também incluiu na determinação que foi informado sobre uma “ocorrência de violação” da tornozeleira eletrônica utilizada pelo ex-presidente. O aparelho foi danificado às 0h07 de sábado.

Bolsonaristas minimizaram a tornozeleira eletrônica danificada. Enquanto alguns afirmaram ao longo de sábado que o ex-presidente estava “em surto”, outros disseram que o fato de o aparelho ter sido danificado não justifica uma possível fuga, já que a casa do réu é monitorada por agentes da PF.
Com imagem arranhada, Bolsonaro apela para pautas “irreais”, diz especialista. Para o pesquisador da FGV Guilherme Galvão, o ex-presidente tenta emplacar a causa cristã “contra um STF ímpio e perseguidor”.
A admissão da violação da tornozeleira foi feita pelo próprio ex-presidente. Bolsonaro afirmou para uma agente da Seape (Secretaria de Administração Penitenciária) que usou um ferro de soldar para romper o aparelho. Inicialmente, ele disse aos agentes que a tornozeleira havia batido na escada.
Ao chegar na vigília ontem, Flávio disse que Bolsonaro pode ter sentido vergonha dos familiares. O senador contou que o ex-presidente recebeu seus irmãos que moram em São Paulo. “Acho que pode ter sido algum ato de desespero”, afirmou. “Ele se indignou e tentou mexer, mas isso não foi decisivo para prisão dele.”
Os aliados do ex-presidente também se apoiam no argumento de que o réu era monitorado 24 horas. O advogado de Bolsonaro, Paulo Bueno, disse que “não teria” como o cliente fugir, já que sua casa é monitorada por agentes federais. “Desconheço qualquer indivíduo no Brasil com tornozeleira eletrônica que tenha uma escolta permanente na porta de sua casa”, disse. A justificativa também foi citada pelo vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), outro filho do ex-presidente.








