Do UOL – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou duas versões diferentes para a violação da tornozeleira eletrônica que usa. Ele teve a prisão preventiva mantida após passar por audiência de custódia de hoje, por videoconferência.
Em audiência de custódia, Bolsonaro disse que teve uma “alucinação” ao tentar violar o equipamento. Ele disse que “tinha alguma escuta na tornozeleira” e, por isso, teria tentado abrir a tampa. “O depoente afirmou que não se lembra de surto dessa natureza em outra ocasião”, diz a ata da audiência. Segundo Bolsonaro, ele passou a tomar um dos remédios cerca de quatro dias antes dos fatos que levaram à prisão.
Em primeira versão, Bolsonaro havia dito que violou a tornozeleira por curiosidade. Ao ser questionado por uma servidora de administração penitenciária do Distrito Federal, ele afirmou: “Meti ferro quente, meti ferro quente aí… curiosidade”. Ao ser perguntado “que ferro foi? Ferro de passar?” ele respondeu: “Ferro de soldar, solda”.
Declaração do ex-presidente de que usou ferro de solta por “curiosidade” está registrada em vídeo e relatório da Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal. Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes determinou que a defesa de Bolsonaro esclareça o motivo de ele ter tentado violar a tornozeleira.
Bolsonaro alega alucinação
Ex-presidente disse hoje em audiência de custódia que teve “alucinações” e “certa paranoia”. Ele disse que teve “certa paranoia” de sexta para sábado em razão de medicamentos que tem tomado. Segundo ele, medicação foi receitada por médicos diferentes e que “interagiram de forma inadequada”. Além disso, afirmou que passou a tomar um dos remédios cerca de quatro dias antes dos fatos que levaram à sua prisão.
Bolsonaro disse que agiu sozinho, e que a filha Laura, seu irmão mais velho e um assessor dormiam e não viram a ação. Ele tentou romper sua tornozeleira eletrônica usando um ferro de solda “pois tem curso de operação desse tipo de equipamento”. A audiência de custódia foi conduzida pela juíza Luciana Yuki Fugishita Sorrentino.
Ele disse que parou de usar a solda quando “caiu na razão”. Segundo Bolsonaro, em seguida, ele teria comunicado o que tinha feito aos agentes de sua custódia. O centro que monitora Bolsonaro desde 18 de julho informou que o sistema gerou alerta “indicando violação” à 0h07 de ontem.
Apesar da audiência de custódia, a juíza não tinha poder para revogar a prisão. Como ela foi decretada por um ministro do STF, a decisão sobre sua manutenção caberá à Primeira Turma do Supremo. Hoje, o juiz apenas repassará o relatório da audiência a Moraes e, depois, à Primeira Turma.
“Meti ferro quente aí. Por curiosidade”
Equipamento possuía “sinais claros e importantes de avaria”, diz documento da Seape. “Haviam (sic) marcas de queimadura em toda sua circunferência, no local de encaixe/fechamento do case”, afirma trecho do relatório. Bolsonaro foi, então, questionado por agente da secretaria sobre o instrumento utilizado e informou que fez o uso de “solda para tentar abrir o equipamento”.
Inicialmente, os agentes foram informados que aparelho havia batido numa escada. Segundo o relatório da Seape, assinado pela diretora-adjunta do Centro Integrado de Monitoração Eletrônica, Rita Gaio, a tornozeleira não apresentou sinais compatíveis com esse choque. “O dispositivo violado foi então recolhido e a equipe de escolta retornou para posto de vigilância externo à residência”, diz documento.
A equipe de escolta posicionada nas imediações da casa do ex-presidente foi acionada, diz documento. “Os policiais penais realizaram contato imediato com o réu, solicitando que se apresentasse para verificação do equipamento”, afirma a secretaria. Após a entrada autorizada, os agentes afirmaram que buscaram “espaço com boa iluminação e energia elétrica, disponível já na sala principal da edificação. Diferente do que havia sido informado inicialmente, a tornozeleira não apresentava sinais de choque em escada”, detalha Seape.
A pulseira do equipamento não tinha sinais de avaria, de acordo com o relatório. “O equipamento número de série 85916 foi então substituído”, informa o documento. “Tornozeleira eletrônica n. 85903 foi instalada. Após confirmação de funcionamento regular, captação contínua de sinal e teste de tração, o monitorado foi liberado para retornar ao repouso.”
Duas equipes do Instituto Nacional de Criminalística trabalham na perícia da tornozeleira eletrônica violada por Bolsonaro. O Serviço de Perícias Eletrônicas e de Audiovisuais atua para verificar os possíveis impactos sobre o sistema eletrônico e de registros do equipamento. Já o Laboratório de Microvestígios do Serviço de Perícias de Local de Crime analisa todas as marcas e os danos provocados no aparelho, inclusive para comparar a compatibilidade com eventuais instrumentos utilizados.







