Por Carlos Madeiro, do UOL – Sem outro nome viável capaz de bater o PT, o partido respondeu aos acenos de aproximação de Ciro, que começaram em 2024, e decidiu apoiar o tucano para tentar evitar a reeleição de Elmano de Freitas (PT).
O que eles não contavam é que esse cenário seria criticado em público por Michelle, que no ato em Fortaleza falou diretamente a André que “fazer aliança com um nome que é contra o maior líder da direita, isso não dá”. Após a fala, ela foi muito aplaudida.
O vídeo com a fala causou grande constrangimento a todos os integrantes do PL presentes e rapidamente circulou pelos grupos de WhatsApp e redes sociais. “Ela foi a nossa camisa 10, nos grupos de esquerda só se falou nisso”, brincou um aliado de Elmano.
Claramente contrariado, André respondeu a Michelle ainda na saída do evento ao falar com jornalistas. “Se foi precipitada, então foi do próprio marido dela.”
André já havia dito, no dia 28 de outubro, que Bolsonaro tinha dado o aval para aliança com Ciro. “Ele nos ouviu, nos atendeu e mandou tocar [o acordo com Ciro]”, disse.
A fala de Michelle causou problemas ao PL, que levou o presidente Valdemar Costa Neto a marcar reunião emergencial para tentar debelar a crise.

A crítica da ex-primeira-dama também gerou uma reação conjunta dos três filhos de Bolsonaro, que se manifestaram nesta segunda-feira para defender a aliança articulada por André Fernandes e criticar a madrasta.
O primeiro a falar foi o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), em entrevista ao jornal O Povo. “A Michelle atropelou o próprio presidente Bolsonaro, que havia autorizado o movimento do deputado André Fernandes no Ceará. E a forma com que ela se dirigiu a ele, que talvez seja nossa maior liderança local, foi autoritária e constrangedora”, disse.
Depois, foi a vez do vereador Carlos Bolsonaro repostar a matéria em suas redes sociais e defender a fala do irmão. “Temos de estar unidos defendendo a liderança do meu pai”. Em seguida, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) republicou a postagem do irmão Carlos e tratou a fala de Michelle a André Fernandes como algo “injusto e desrespeitoso”.
Meu irmão @FlavioBolsonaro está correto. Foi injusto e desrespeitoso com o @andrefernm o que foi feito no evento. Não vou entrar no mérito de ser um bom ou mal acordo, foi uma posição definida pelo meu pai.
– Meu irmão, @FlavioBolsonaro, está certo e temos que estar unidos e respeitando a liderança do meu pai, sem deixar nos levar por outras forças! pic.twitter.com/Au9u5rOL8z
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) December 1, 2025
A comemoração petista tem uma explicação óbvia: Ciro é tido hoje como o único nome capaz de impedir uma vitória de Elmano em 2026. As pesquisas mais atuais apontam Elmano em empate em uma disputa contra o tucano. No final de setembro, levantamento da Real Time Big Data colocou Ciro numericamente à frente de Elmano: 43% x 41%. Em todos os outros cenários sem Ciro, o petista vence em primeiro turno.
A entrada de Girão, se confirmada, é vista como boa notícia para o PT. Além dele ser considerado um nome fácil de ser batido, é capaz de rachar o eleitor bolsonarista e tira votos do tucano. Na pesquisa Big Data, o máximo que ele atinge nos cenários é 18%.
A leitura sobre Girão leva em conta a eleição para prefeito de Fortaleza, em 2024, quando ele foi candidato, mas teve apenas 1,06% dos votos válidos, na quinta posição. Para um aliado, seria muito mais fácil “passar o trator”.
Petistas ouvidos pela coluna acreditam que, por mais que seja contornada, a fala de Michelle por si só já foi capaz de causar ruído ao eleitor raiz de Bolsonaro, o que pode fazer com que Ciro perca força em um público importante, como entre eles os evangélicos —onde a ex-primeira-dama tem grande entrada.








