Do Estadão – A empresa que ganhou uma licitação de R$ 117,7 milhões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) no mesmo dia em que o seu sócio esteve no Ministério da Previdência, em 2023, está prestes a ampliar a presença na autarquia com um novo contrato, de R$ 378 milhões.
A pernambucana Provider, do recifense João Luiz Dias Perez, ofereceu o menor preço no pregão eletrônico aberto para seleção de uma firma para outra das três centrais de teleatendimento a beneficiários do INSS por meio do 135.
A reunião virtual para a disputa de preços foi realizada em 4 de novembro, com 21 concorrentes. A Provider aparece como homologada no certame desde 17 de novembro, mas ainda não assinou o contrato com o INSS.
Procurada pela reportagem, a autarquia informou que “o processo encontra-se em andamento” dentro do órgão e “aguardando manifestação técnica, jurídica e administrativa”.
O INSS é presidido pelo procurador federal Gilberto Waller Júnior, escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir a autarquia depois da primeira fase da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal. A antiga direção foi afastada por suspeitas de envolvimento no esquema de descontos associativos ilegais.
O INSS tem três centrais de teleatendimento, em Salvador (BA), Recife (PE) e Caruaru (PE). A nova licitação, em andamento, é para operar a central de Recife (PE) até 2031. A Provider já tem o contrato para prestar o serviço em Caruaru (PE) até 2027.

Foi durante essa licitação para a Central de Caruaru, em 22 de junho de 2023, que o dono da empresa passou o dia dentro do Ministério da Previdência, ao qual o INSS é ligado. A informação foi revelada pelo Estadão.
Dias Perez chegou ao prédio às 10h14 e ficou no local até 17h32, segundo os registros da portaria. A sessão para envio dos lances pelas empresas interessadas no contrato havia sido aberta às 10 horas.
A agenda oficial das autoridade públicas registra um único compromisso do empresário naquele dia: uma reunião realizada entre 12 horas e 13 horas com Wolney Queiroz, na época secretário-executivo da pasta e, desde maio deste ano, chefe do ministério. No período de duração da agenda o pregão ainda estava em disputa, com empresas ofertando lances.
O ministério não soube explicar o porquê de o empresário ter ficado tanto tempo dentro dos espaços do governo no mesmo dia do pregão. À reportagem, João Perez disse que não precisava dar satisfações. Procurado novamente nesta terça-feira, 2, ele não retornou a tentativa de contato.
A partir das informações reunidas pelo Estadão, Wolney Queiroz determinou uma apuração interna sobre a “eventual presença” do empresário nas dependências do ministério no dia licitação.
Em nota, o ministério afirmou que a reunião de Wolney com o empresário foi marcada para tratar de serviços prestados pela empresa. A Provider já tinha o contrato de Caruaru, assinado em 2017 e prorrogado com aditivos até meados de 2023. Disse ainda que a licitação era protegida de influências externas.
Segundo o ministério, o aliado dos Queiroz participou da reunião no ministério na condição de “colaborador eventual” por causa de sua experiência na área.
Wolney é ministro da Previdência desde a demissão do então titular da pasta, Carlos Lupi, em maio, em decorrência da pressão por providências governamentais contra os descontos associativos ilegais.








