Do Estadão – O empresário Joesley Batista, proprietário da JBS, comunicou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o encontro que teve com o ditador venezuelano Nicolás Maduro para persuadi-lo a renunciar e, assim, permitir uma transição pacífica de poder.
Segundo apurou o Estadão, a estratégia do empresário brasileiro é aproveitar essa proximidade com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para atuar como ponte na melhoria da relação do Brasil com os Estados Unidos. Joesley tem linha direta com o presidente brasileiro também. O Palácio do Planalto foi procurado, mas não se manifestou.
O grupo J&F quer aproveitar o protagonismo nesses diálogos com líderes internacionais como estratégia de rebrading, num reposicionamento da marca para grandes temas.
Esse reposicionamento é uma tentativa de superar o passado recente do grupo. Alçada ao posto de gigante global via empréstimos do BNDES na era dos “Campeões Nacionais” durante os primeiros mandatos petistas, a JBS viu seu prestígio derreter após a delação de 2017, quando a divulgação do áudio de Joesley com Michel Temer abalou a República e resultou na prisão dos irmãos Batista.
O retorno de Lula ao poder permitiu a Joesley sair do isolamento político. A relação histórica com o PT, que fomentou o crescimento do grupo no passado, facilitou a reabertura das portas do Planalto. A atuação na crise venezuelana poderia reforçar essa ‘volta por cima’, permitindo que o empresário troque a imagem de delator pela de articulador geopolítico com acesso privilegiado a líderes mundiais.
Oficialmente, o grupo J&F afirmou que Joesley Batista não é representante de nenhum governo e que não vai se manifestar além disso.
A viagem de Joesley para Caracas foi revelada pela agência Bloomberg e confirmada pela Coluna. O brasileiro se reuniu com Maduro no último dia 23 de novembro, depois que o presidente dos EUA ligou para o líder do país para instá-lo a deixar a Venezuela.
A Bloomberg destacou o papel de Joesley Batista como mediador, na tentativa de amenizar as tensões políticas entre o governo Trump e a Venezuela. A agência afirmou que autoridades do governo Trump estavam cientes dos planos de Batista de visitar Caracas, mas não foi solicitado a ele viajar em nome dos EUA.
A viagem de Batista a Caracas ocorreu em meio a sinais crescentes de que o governo Trump está preparando operações militares dentro da Venezuela. Washington denominou o Cartel de los Soles como uma organização terrorista e acusou Maduro de liderar o esquema.
Os Estados Unidos realizam desde setembro vários ataques letais contra embarcações que supostamente transportam drogas no Caribe e no Pacífico, e acusam o ditador Nicolás Maduro de liderar um cartel de narcotráfico. Caracas nega e argumenta que o objetivo de Washington é derrubar o presidente venezuelano e tomar o controle do petróleo do país.
A JBS é proprietária da Pilgrim’s Pride Corp, produtora de frango com sede no Colorado, que doou US$ 5 milhões ao comitê de posse de Trump, a maior doação individual. A agência citou ainda que a JBS obteve a aprovação da Comissão de Valores Mobiliários para listar suas ações em Nova York.
Batista se reuniu com Trump no início deste ano para defender a remoção das tarifas sobre a carne bovina. A JBS é a maior fornecedora de carne do mundo e tem mais de 70 mil funcionários nos Estados Unidos e no Canadá.
Ao Estadão, ele disse que falou “bem” do Brasil ao presidente americano. “A gente conhece muita gente lá, né? Tem que falar bem do Brasil, coisa que todo brasileiro deveria fazer. Infelizmente, nem todo brasileiro fala bem do Brasil”, disse Joesley no fim de outubro, durante visita a Jacarta, capital da Indonésia, como parte da delegação empresarial convidada para acompanhar a visita de Lula.
A Bloomberg também reforçou os laços da família Batista com a Venezuela. Há anos, a JBS e Maduro negociaram um acordo de US$ 2,1 bilhões para o fornecimento de carne bovina e frango à Venezuela, em um momento em que o país passava por uma grave escassez de alimentos e hiperinflação.








