*Por Mauro Beting – Flamengo era bola contada, mas Mirassol, derrocada do Inter e recuperação do Fortaleza são impressionantes. Como Muro Beting que sou, isto é, mureteiro concursado e juramentado – até para poder ver os vários lados das questões -, não costumo me arriscar em chutes, palpites e apostas.
Cá entre nós: meu último texto prévio deu errado para o meu time: apostei no Palmeiras na Libertadores e… Mas, antes de a bola rolar no Brasileirão, minhas fichas estavam com Filipe Luís e o Flamengo campeoníssimo nacional. Favorito. Fácil.
Barbada. Diferente da espetacular surpresa do Mirassol. E da apavorante decepção do Internacional. Mas quero mesmo falar de um time que não imaginei que fosse sofrer tanto. E, confesso, não cogitava a recuperação atual.
O Fortaleza já tivera espantosa reação no Brasileirão antes com o antológico Vojvoda. Mas a tardia e triste saída dele também quase precipitou o precipício. Marcelo Paz, o Vojvoda dos cartolas do Fortaleza, desta vez não acertou a mão em contratações, e em questões políticas e pessoais internas.
Lembrando sempre que, neste e em muitos casos, até quando se faz o certo pode dar errado. E não rolou como vinha brilhando o clube desde antes da volta à Série A, em 2019. Aquela química que tem muito esforço da física. E outras ciências e experiências.

A lógica agora era cair. Mas o time da virada foi o Leão. Depois de 27 rodadas penando no Z-4 dos infernos, o Fortaleza só depende de si, na última e complicada rodada, para seguir na tropa de elite.
Mérito de outro argentino que chega para somar no coração tricolor. Martín Palermo, com 58% de aproveitamento, agora nove jogos seguidos sem derrota, com 13 pontos conquistados nos últimos 15. Nem o Flamengo vive sequência tão boa no campeonato.
Desde a 11ª rodada estava na turma do funil. Um desespero só. Mas com a garganta e garantia de 56.014 vozes no Castelão contra o Corinthians, o jogo e a sorte viraram. Hoje escapa. E entendo que neste domingo, também.
O que eram apenas 15 pontos na tabela viraram mais 28. Em 16 partidas, com oito vitórias, quatro empates e quatro derrotas. Palermo resgatou a organização defensiva e jogo vertical. Espírito de competição que vinha faltando.
E a torcida que não falta. Até em Bragança foram seis ônibus para o interior paulista. Também na tabelinha do clube e patrocinadores: 30% das vendas das lojas do clubes revertidas para a caravana até o jogo final, no Rio, contra o Botafogo. O mesmo duelo decisivo da Taça Brasil de 1968.
O Fortaleza parece que virou mais um jogo. Segue sendo exemplo para o Nordeste, Brasil e América do Sul. Muito mais do que clubes com receitas maiores.
Mauro Beting é comentarista SBT, TNT, Jovem Pan, Xsports, N Sports. Escritor e documentarista. Curador do Museu Pelé e do Museu da Seleção Brasileira.









