Da Época – O jornalista Nirlando Beirão, de 71 anos e dono de um dos melhores textos da imprensa brasileira, morreu após alguns anos lidando com a esclerose lateral amiotrófica (ELA). Sofreu uma parada cardíaca.
Beirão deixa a filha Júlia Beirão, os enteados Maria Prata e Antônio Prata e a viúva, Marta Góes.
Beirão tinha 53 anos de carreira, desde que começou no Última Hora.
Passou pelas revistas Istoé, Senhor, Forbes, Veja, Playboy e Carta Capital e pelos jornais O Estado de S. Paulo e O Tempo. Em TV, foi da Record News.
Lançou em 2019 Meus Começos e meu fim pela Companhia das Letras, em que fala sobre a doença.
Abaixo, um trecho.
“No início de julho de 2016 — o dia eu tenho com certeza anotado, mas é hoje cruelmente irrelevante — fui diagnosticado com uma doença degenerativa do neurônio motor.
“Degenerativa” é uma palavra que tira você para dançar — uma dança de medo. “Degenerativa”, a palavra me pinçou a alma quando o médico a pronunciou, me tirou o chão.
Foi como se tivesse sido de repente transportado do asséptico cenário do consultório para uma irrealidade leitosa, distante dali, indecifrável no primeiro contato, mas sabidamente sinistra e hostil. A consciência piscou.
As pessoas, ao morrer, vivenciam um estrépito de luzes — é o que dizem os espiritualistas. Eu, ali, frente a uma revelação de trevas, como que ingressava na penumbra fosca de um corredor sem saída.
Tenho dificuldade em acolher más notícias. Costumo desligar o botão do pânico.
Mais uma vez, me abstraí num autismo boquiaberto enquanto o neurologista traçava, com punho firme de artista, o esboço didático da minha moléstia. Um círculo perfeito, a que ele chamou de coluna, e dentro uma figura com tentáculos, o assim denominado neurônio central.”







