Informações do Site Inteligência Política.
Uma das citações mais conhecidas e inspiradas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz que “impeachment é como bomba atômica, é para dissuadir, não para usar”.
Uma presidente eleita explodida depois, até que ponto Brasília teria medo de lançar tudo pelos ares outra vez? Cada caso é um caso, mas é fato que o impeachment está no radar de novo – menos de 160 dias depois que os brasileiros foram às urnas ungir Jair Bolsonaro (PSL).
Quer dizer que vai acontecer? Necessariamente, não. Mas é como uma bomba relógio em progressão: ontem, a chance era de 0,1%, hoje é de 0,2%, amanhã, muito provavelmente será de 0,3%…
Para se entender como funciona a política em Brasília: muitos governos são colhidos pela “tempestade perfeita”. A saber, do que se trata? Uma combinação de fatores que envolve, entre outras variáveis, economia débil, aprovação popular baixa, protestos de rua em aquecimento, desemprego, relações políticas arenosas e desconfiança de parte do capital.
Pois bem, de volta. Muitos governos são colhidos por essa tal tempestade. Bolsonaro, por outro lado, é um caso raro por ser o pai da tempestade. Isso explica a deterioração rápida e a preocupação em elevação pelos Três Poderes.
Ninguém está dizendo que Bolsonaro, por exemplo, é o pai da economia débil. Ela é uma herança que vinha da ex-presidente explodida Dilma Rousseff (PT) e seguiu sem grandes avanços no governo do detonador Michel Temer (MDB).
Mas, convenhamos, a primeira amostra de Bolsonaro não é boa. Só o que o mercado tem feito desde janeiro é revisar para baixo o crescimento do PIB. Assim, 1% para os mais otimistas. Os 2,5% de crescimento iniciais já virou farofa.
PROTESTOS ACELERAM EROSÃO POLÍTICA
Explicações e contrapesos registrados, as demais condições estão se consolidando. A ver: o inábil corte de mais de 30% nas despesas discricionárias das universidades federais deu até à oposição um fôlego e trouxe os estudantes às ruas.
Mesmo muitos dos mais ferrenhos bolsonaristas admitem que atacar a educação, os professores e estudantes pode não ser a estratégia mais inteligente. De resto, exceto no Sul do País, a aprovação e a crença no presidente estão em queda livre nas pesquisas.
Já aparece no radar o famoso cheiro do “volume morto” experimentado por Dilma. O desemprego se ampliou. A base no Congresso sequer merece receber esse nome, “um 7 x 1 por dia”. E o capital? Bem, o capital começa a “precificar Bolsonaro”, o que significa que os dias de esperança parecem estar próximos do fim.
O caldo do mercado só não entornou porque o ministro da Economia, Paulo Guedes, segue lá e ninguém mandou arquivar a Reforma da Previdência. Calma, calma, isso não vai acontecer.
Bom, para um impeachment, não basta o mau desempenho, não é mesmo? Ao contrário de algumas democracias, no Brasil não se admite o “recall”, ou seja, a análise do desempenho pelo eleitor ao longo do mandato. Dessa forma, é preciso “substância” para o pedido. Pois bem. Para alguns mais afoitos, já haveria.
E, pra quem acha que não há, provavelmente vai haver quando as investigações sobre o filho do presidente, o senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), avançarem de parte do Ministério Público do Rio de Janeiro. A mega quebra de sigilo contra Flavio envolve “nove ex-assessores do presidente” dizia O Globo na edição de 16 de maio. Entre os procuradores se comenta que nem “Madre Teresa de Calcutá” resistiria a uma quebra de sigilo tão ampla.
HOJE NÃO HÁ CHANCE DE IMPEACHMENT. E AMANHÃ?
Quais são as chances de não haver impeachment? O que precisa pra que não haja? Duas boas perguntas.
Hoje, as chances são maiores de que não haja porque um impeachment gera desgaste para o país e nunca é algo positivo. Fragiliza a democracia e aprofunda cisões.
Além disso, o impeachment exige que uma série de atores políticos venham à luz do sol, se exponham para defendê-lo sem soar “golpistas” – ou que estejam dispostos a carregar consigo a pecha.
Para evitar o impeachment, ou para se assegurar de que não aconteça, Bolsonaro precisaria uma guinada de 180º em seu governo. Muito dessa mudança incluiria, por exemplo, atropelar seu próprio discurso pela “nova política”. Solidificar a maioria no Congresso seria a primeira tarefa.
Mas o Congresso é muito sensível às ruas e depende de um governo minimamente estável e que permita aos parlamentares se associarem sem medos. Isso não acontece de uma hora pra outra. É preciso começar ontem.
Seguro o Congresso, uma parte da tarefa estaria pronta. Um grande pacote de medidas para impulsionar a economia seria interessante para aparar as asinhas do impeachment. Daí a decisão de Guedes de deixar a reforma da previdência com outros atores, participando ele apenas da abertura e encerramento dos espetáculos.
Ficar fixado apenas na reforma da previdência não é mais possível. E, claro não há dinheiro público para tocar um New Deal capaz de alavancar o país, nem mesmo para um mero PAC.







