Com informações da assessoria de imprensa – Há 20 anos a Fundação Joaquim Nabuco concedeu a medalha de honra ao mérito a José Francisco Borges, já então conhecido por sua arte, os cordéis e a xilogravura. Ao longo de sua carreira, o artista recebeu diversos prêmios e homenagens. No ano passado, a Fundaj o agraciou novamente, com a Medalha Gilberto Freyre, pelos 40 anos do Museu do Homem do Nordeste. Neste ano, fará mais uma saudação ao mestre pernambucano: J.Borges será o homenageado do São João na Rede da Fundaj, evento que será realizado no dia 24 junho, pela internet, no endereço www.saojoaodafundaj.com.br e nas redes sociais da instituição.
“Estamos, em meio à pandemia, trabalhando para manter viva a cultura, além de colaborar com pesquisas sobre o impacto do vírus e com cursos a distância. Homenagear J. Borges neste São João virtual é homenagear todos os que vivem de sua arte, é valorizar o Nordeste e sua arte popular”, destaca o presidente da Fundaj, Antônio Campos. Com uma vasta programação, o São João na Rede da Fundaj terá oficinas, reflexões, exibição de filmes e shows, tudo isso com a presença de folcloristas, historiadores e cantores, como Cristina Amaral. “Vamos levar o São João, essa festa tão tradicional do Nordeste, para a casa das pessoas. Estejam onde estiverem, poderão vivenciar o período junino e conhecer o acervo da Fundaj sobre o tema”, continua Antônio Campos. No site, destaca, estará o que há de música junina no acervo fonográfico da Fundação, assim como 36 peças do Museu do Homem do Nordeste, documentários da Massangana Audivisual e filmes da Cinemateca Pernambucana.
Serão seis horas de atividades em um evento ao vivo que contará com a apresentação do ator Adriano Cabral. Tendo início às 15h, o presidente da Casa, Antônio Campos, e o diretor de Memória, Cultura, Educação e Arte (Dimeca), Mario Helio, abrirão a programação do festejo online. “É um desafio promover uma festa de São João virtual. As festas juninas comemoram o nascimento do precursor de Jesus Cristo e estão entre as heranças ibéricas mais evidentes da nossa cultura” , ressalta Mario Helio. O homenageado, J. Borges, participa da festa. Fará uma saudação ao público e falará sobre sua obra. “Eu me sinto muito honrado e satisfeito em receber mais uma homenagem da Fundaj, agora em uma festa tão simbólica e alegre no Nordeste, da qual eu sou fã. Do nordeste a gente guarda como lembrança o resto da vida, levando como saudade as festas juninas”, compartilha o xilogravador.

O que seria das tradições juninas sem brincadeiras que rememoram nossa origem e encantam adultos e crianças? Pensado para atender a toda família, o “Recrearte”, primeira atividade do São João na Rede da Fundaj, promoverá às 15h35 variadas atividades lúdicas a partir do trabalho de arte-educadores. Folguedo ideal para afastar os móveis de casa e cair na diversão.
Já ao entardecer, com uma iluminação amena favorável à exibição de filmes, a Cinemateca Pernambucana apresenta uma sessão de curtas que promete acelerar corações e emocionar, a partir das 16h10. É bom preparar a pipoca: em cartaz, títulos que dialogam com a comemoração junina e a vida sertaneja. “A Saga da Asa Branca”, de Lula Gonzaga; “O Cangaceiro”, de Marcos Buccini; “A Morte do Rei de Barro, de Marcos Buccini e Plinio Uchôa”; “A Árvore do Dinheiro, de Marcos Buccini e Diego Credidio”; e “Salu e o Cavalo Marinho”, serão transmitidos para todo o público, respectivamente.
A culinária é parte fundamental do São João. Milho assado, cozinhado, canjica, pamonha, manguzá e amendoim, tudo o que o santo merece para uma noite estrelada. Dando água na boca dos espectadores e atendendo ao desejo por comidas típicas regionais, o chef César Santos comanda a “Oficina Gastronômica” às 16h50.
Anoitecer

De “bucho cheio” e receita na mão, a programação da véspera de São João promove ainda uma pausa para a reflexão. Festa junina pode ser também aprendizado, e no ensejo, a antropóloga do Museu do Homem do Nordeste, Ciema Mello, apresenta a “Antropolive – O Melhor São João do Mundo”, às 18h.
“Não foram os brasileiros que inventaram o São João, nem os portugueses que trouxeram na bagagem. Na verdade, a nossa festa junina é uma derivação de uma ritualização pagã, comemorada até hoje em alguns países da Europa, como a Escócia e País de Gales. Diferente de nós, que celebramos no inverno, nesses lugares o sol é cultuado, em festas beltanes com fogueiras para o solstício de verão. Isso revela que uma cultura nunca acaba, ela adquire o dom da eternidade. Nessas diferenças levantaremos reflexões”, adianta a pesquisadora. As considerações de Ciema Mello virão acompanhadas da participação dos artistas Bruno Lins e Adriano Cabral.
Para lembrar que nem só de curtas se faz uma sessão, a Cinemateca Pernambucana integra novamente a programação do São João na Rede da Fundaj, a partir das 18h55. Dessa vez, a janela de exibição traz os longas-metragens “Adão foi Feito de Barro”, de Fernando Spencer; e “Sertão de Acrílico Azul”, de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz, respectivamente. Com a classificação indicativa livre, os filmes encantam e falam da relação do homem com a cultura popular.
Logo em seguida, às 19h40, o romancista Ronaldo Brito apresentada uma aula-espetáculo. Com histórias, poemas e cantigas populares, a peça “Bandeira de São João” promete entreter e educar. “Se alguém sentir vontade de dançar, não sintam cerimônia”, pede o artista.
Show ao vivo

Para encerrar um dia de celebrações, nada melhor do que música. Pernambucana da cidade de Sertânia, a cantora Cristina Amaral ascende à transmissão às 21h10. Em seu repertório ao vivo, a artista contará com a ajuda de outros seis músicos para fazer uma releitura dos grandes sucessos. Forró no pé não deve faltar!
“Apesar dessa pandemia, a tradição é a mesma. Mesmo não sendo um encontro presencial, a alegria também será a mesma. Ainda que virtual, as festas juninas devem seguir com o mesmo fervor. Xote, xaxado e baião, tudo o que o povo merece”, acrescenta Cristina.
Xilogravura como passaporte

J.Borges nasceu em Bezerros, Agreste de Pernambuco, em 1935. Filho de agricultores, o artista frequentou a escola aos 12 anos, apenas por dez meses. Antes disso, aos 10 anos, já vendia na feira da cidade as colheres de pau que fazia. Foi marceneiro, mascate, pintor de paredes, oleiro, entre outras tantas atividades. Autodidata, J.Borges escreveu seu primeiro folheto em 1964, “O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina”. O impresso foi um sucesso e vendeu 5 mil exemplares em apenas dois meses.
Para a sua segunda publicação, “O Verdadeiro Aviso de Frei Damião sobre os Castigos que Vêm”, o artista não encontrou um clichê para a ilustração da capa. Por economia, fez ele próprio sua primeira xilogravura, inspirada na fachada da igreja de Bezerros. Começava ali a carreira de xilogravador. “Daquele tempo para cá, não parei mais de fazer gravuras. Com o tempo aprendi mais, criando uma prática que me levou a ensinar no exterior. A gravura para mim foi uma mudança de vida perpétua. Estou hoje com 84 anos, mas não pretendo parar tão cedo”, conta J. Borges.
Com o sucesso dos folhetos, em pouco tempo J. Borges adquiriu máquinas tipográficas e passa a editar o trabalho. Sua xilogravura ganhou projeção a partir dos anos 1970, quando os artistas plásticos José Maria de Souza e Ivan Marquetti, em visita a Bezerros, encomendaram as primeiras gravuras em grande formato, tendo como tema o folclore nordestino. Foram eles que apresentaram o trabalho de J.Borges a Ariano Suassuna.

“Soube que assim que ele viu as gravuras perguntou quem era a fera que fazia aquilo. Logo depois, fui chamado à Universidade Federal de Pernambuco para conhecê-lo e para dar entrevistas a meio mundo de jornalistas que ele tinha convocado. Depois dali eu não parei mais”, contou J. Borges em uma das inúmeras entrevistas que concedeu.
Em mais de 50 anos de carreira, o artista produziu um número incalculável de xilogravuras, passaporte para o reconhecimento internacional. Seu trabalho foi exposto em diversos museus – como o Louvre (França), o de Arte Popular do Novo México (Santa Fé, EUA), o de Arte Moderna de Nova York (EUA) e a biblioteca do Congresso norte-americano (Washington, EUA).
Comparado a Pablo Picasso, em reportagem do jornal New York Times (2006) – que também o considerou “gênio da cultura popular” – J. Borges já emprestou seus seres encantados para o mundo literário, ilustrando livros de importantes nomes como o do uruguaio Eduardo Galeano, “As palavras andantes”; José Saramago, “O Lagarto”; Miguel de Cervantes, em edição comemorativa aos 400 anos D.Quixote (2005), entre outros. O pernambucano foi o único artista brasileiro convidado a participar do Calendário da Organização das Nações Unidas, em 2002, apresentando a gravura A vida na floresta.
Confira programação completa do São João na Rede da Fundaj:
24/06
15h – Abertura do evento com o presidente da Fundação Joaquim Nabuco, Antônio Campos e o diretor de Memória Cultura e Arte, Mário Hélio;
15h30 – Depoimento do homenageado, J. Borges;
15h35 – Recrearte!
16h10 – Exibição de curtas-metragens da Cinemateca Pernambucana;
16h50 – Oficina Gastronômica com o chef César Santos;
18h05 – “Antropolive – O Melhor São João do Mundo”, com a antropóloga do Museu do Homem do Nordeste, Ciema Mello, e os artistas Bruno Lins e Adriano Cabral;
18h55 – Exibição de longas-metragens da Cinemateca Pernambucana;
19h40 – Espetáculo Bandeira de São João, com o romancista Ronaldo Brito;
20h10 – Apresentação musical ao vivo da cantora Cristina Amaral;
21h15 – Encerramento da programação.