Por Tales Faria — Sejamos honestos: quem se manteve ao lado do presidente Jair Bolsonaro quando apareceram as primeiras dissensões no ninho do governo? Foram os bolsonaristas de raiz.
Quando o ex-ministro Gustavo Bebianno e os deputados Alexandre Frota e Joice Hasselmann romperam com o governo – ou foram rompidos, sei lá – quem ficou ao lado do presidente? Foram os bolsonaristas de raiz. Aquele grupo mais radical que tem como gurus o Olavo de Carvalho e o filho Zero Dois, Carlos Bolsonaro.
Há quem diga que eles foram o motivo do rompimento, mas o fato é que ficaram com as bandeiras do bolsonarismo e os outros saíram. Os deputados Daniel Silveira (PSL-RJ), Bia Kicis (PSL-DF) e Otoni de Paula (PSC-RJ) eram unha e carne com Joice, Frota & Cia. Mas escolheram ficar com Bolsonaro. A verdade é que eles não entenderam uma coisa: o Bolsonaro de hoje já não está com o Bolsonaro de ontem.

Depois da prisão de Fabrício Queiroz na casa de Frederico Wassef, até então advogado do presidente e de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), o mandatário do Planalto resolveu que tem que se separar do Jair pré-eleitoral. Chegou a hora de varrer para baixo do tapete do passado o Fabrício, o Wassef, rachadinhas e tudo o mais.
Bolsonaro se agarrou a quem pode, de fato, lhe ajudar a se manter no poder: os generais do Planalto, o Centrão e a parcela do povão com quem ele conseguir preservar o contato direto.
Os generais, que tanto foram xingados pelos bolsonaristas de raiz, não querem se misturar mais com esse grupo. Atribuem a eles os principais problemas do governo, além das denúncias e desacertos no Ministério da Educação, na Cultura, no Meio Ambiente e, sobretudo, no Congresso.
O Centrão concorda com os militares e está de olho no espaço no poder que pode ser aberto com o afastamento dos bolsonaristas radicais. E Bolsonaro descobriu, com a pandemia, que bandeiras do passado, como a crítica ao Bolsa Família, não servem para aproximar o povão do seu governo. Promete aderir ao Bolsa Família com um nome novo: Renda Brasil.

O presidente acertou com o Centrão o apoio ao novo projeto em troca da aprovação de um Fundeb Fundo Nacional de Ensino Básico) mais robusto, o que também pode ajudar a manter sua popularidade. Os bolsonaristas de raiz não entenderam ou não gostaram dessa virada do presidente.
Na votação do Fundeb, nesta quarta-feira, a vice-líder do governo Bia Kicis votou contra o acordo acertado pelo líder Major Vitor Hugo e pelo ministro da coordenação política, o general Luiz Eduardo Ramos. Resultado: foi afastada da vice-liderança.
Daniel Silveira e Otoni de Paula tamém já haviam sido afastados da vice-liderança. Daniel Silveira chegou a apontar o general como quem deu a ordem para abrir espaço ao centrão. Otoni de Paula saiu, também a pedido do general, depois que xingou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, de cabeça de ovo, cabeça de piroca e canalha.
Eles não entenderam que, se tiver que escolher entre Bolsonaro ou o Bolsonarismo, o presidente ficará consigo mesmo. Às favas com a ideologia! Aliás, é bom o ministro Paulo Guedes ficar esperto. Bolsonaro nunca foi um liberal. Tornou-se assim por causa dos ventos liberais do momento eleitoral passado. Mas como já dizia Dorival Caymmi, se sabe que os ventos mudam, aí o tempo virou.
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*Tales Faria é jornalista e colunista do UOL.







