Por Tonico Magalhães
O jornalista pernambucano Geneton Moraes Neto morreu na segunda-feira aos 60 anos. Esteve internado num hospital do Rio, onde vivia, desde maio passado vítima de um aneurisma dissecante na Aorta. Quem não o conheceu perdeu muita coisa, mas pode recuperar por meio dos escritos que deixou em livros e no blog do g1.globo.com.
Quem teve o privilégio de conhecê-lo só tem boas recordações do seu trabalho, do seu bom caráter, da sua gentileza e bom humor. Uma unanimidade do bem quando vivo e também agora que se foi. Amigos comentaram sua forte presença na vida de cada um. Até mesmo o presidente Michel Temer e o governador Paulo Câmara deram depoimentos sobre a trajetória desse artista das letras e das imagens.
Geneton começou sua carreira no Diário de Pernambuco, passou pela sucursal do Recife de O Estado de São Paulo e radicou-se na Rede Globo, no Rio de Janeiro. Para formatar suas entrevistas na TV ele ensinava que jornalista não pode exercer patrulhamento ideológico, tem que aprender a ouvir e perguntar o que o público quer saber. Acertava na mosca em todas elas. Não foi professor, mas deu aulas de jornalismo inesquecíveis. Os melhores dessa nova geração serão sempre discípulos de Geneton.
Numa pesquisa no seu blog http://g1.globo.com/pop-arte/blog/geneton-moraes-neto encontrei a Oração a Nossa Senhora do Perpétuo Espanto, a “padroeira” dos jornalistas:
“Nossa Senhora do Perpétuo Espanto, rogai por nós.
Que eu possa manter os sentidos atentos para perceber o novo e a memória viva para preservar o passado.
Senhora do Perpétuo Espanto, aconselha-nos.
Que me espante aquilo que é espantoso, que eu ignore o que é banal e valorize o que que tem valor.
Senhora do Perpétuo Espanto, iluminai-nos.
Que meu coração sofra com o sofrimento do meu irmão, alegre-se com sua alegria e inquiete-se com sua indiferença.
Senhora do Perpétuo Espanto, nos dê forças.
Que eu encontre a palavra certa para dividir minhas dores medos e alegrias, pois a arte requer comunhão.
Senhora do Perpétuo Espanto, guiai-nos;
Que eu saiba mais ver do que aparecer, mais ouvir do que falar.
Senhora do Perpétuo Espanto, rogai por nós.
Que eu tenha a ira para não aceitar o inaceitável, a tolerância para perdoar o que merece perdão e a sabedoria para distingui-los.
Senhora do Perpétuo Espanto, rogai por nós.
Que eu creia sempre no valor da verdade e esteja atento ao perigo das certezas.
Senhora do Perpétuo Espanto, rogai por nós.
Que, onde houver certezas, eu leve a dúvida.
Senhora do Perpétuo Espanto, protegei-nos”
“Nossa Senhora do Perpétuo Espanto deveria ser entronizada nas redações como guia e padroeira dos jornalistas – que, todo dia, antes de sair de casa, deveriam fazer um juramento íntimo: jamais deixar de se espantar diante do Grande Espetáculo da Vida”.
“Porque este Espetáculo – que acontece, neste exato momento, nas ruas, nas favelas, nas florestas, nos parlamentos, nos palcos, nos desertos, nos sertões, nos estádios – pode ser, sim, espantoso, surpreendente e arrebatador”.
“Movidos por este credo, os jornalistas poderão oferecer aos leitores, ouvintes, telespectadores e internautas um jornalismo igualmente espantoso, surpreendente e arrebatador – e não um jornalismo burocrático, chato, vaidoso, cinzento, sonolento, pretensioso e sem graça”.
(Geneton Moraes Neto – 13.julho.1956 / 22.agosto.2016)







