*Por Thaís Oyama — A declaração foi dada na segunda-feira, mas só repercutiu de verdade a partir de um tuíte postado por seu rival, Ciro Gomes (PDT), segundo quem o ex-presidente pretende “continuar protegendo os mais ricos”. De ontem para hoje, as menções positivas a Lula nas redes caíram de 34% para 30%, segundo dados da AP Exata. Mas se a tropa cirista tem responsabilidade na pancadaria, é certo que parte dos ataques ao petista veio da sua própria turma.
Na batalha interna com o PT, a economia será a maior pedra de Lula na sua pretendida caminhada ao centro. E é por isso que, nesse terreno, o petista tem pisado em ovos.
Se, no campo político, ele vem se reunindo a céu aberto com lideranças de todos os espectros, do PSDB ao Centrão, na área econômica, tem preferido se manter cuidadosamente no polo da esquerda.
Entre os especialistas com quem conversou recentemente estão Luiz Gonzaga Belluzo e Paulo Nogueira Batista Jr., que não podem ser chamados de “neoliberais”.

Lula está bem posicionado entre os mais pobres. Segundo a última pesquisa Datafolha, ele chega a atingir 57% de intenção de votos nesse segmento no segundo turno. Entre os menos escolarizados, a porcentagem é parecida: 56%. A continuar assim, o ex-presidente não terá dificuldades em falar para esse público — sobretudo porque, como diz um seu conselheiro de longa data, “o povo não quer saber de teto de gastos”.
O mesmo, porém, não se pode dizer dos mais abastados, segmento em que Jair Bolsonaro se sai melhor (na faixa acima de dez salários mínimos, o presidente vence o petista por 36% a 22%). É para esse público que Lula acena quando se arrisca a melindrar suas bases criticando o “imposto dos ricos”.
A caminhada do petista para o centro é vista por aliados mais pragmáticos como a única forma de atropelar a terceira via antes que ela dê largada. Nesse trajeto, no entanto, pedras não faltarão para ele —e a primeira delas está logo na porta de casa.
Antes de conquistar os ricos, Lula terá de vencer o PT.
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*Thaís Oyama é jornalista e escritora. Foi editora e redatora-chefe da revista Veja, com passagens na TV Globo (sucursal de Brasília), nos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo e nas revistas Marie Claire e República, entre outros veículos.








