Com informações da assessoria de imprensa – “A cultura educa?”. Essa pergunta, que parece simples, mas pode gerar um debate complexo, foi o ponto de partida para que pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) desenvolvessem o projeto que teve início em 2017 e virou livro. “Nós para Atar e Desatar – Relações entre Educação e Cultura” é a obra resultante do estudo e será lançada em agosto. A proposta de relatório foi aprovada na reunião de julho do Conselho Diretor da Fundaj.
Além desse livro e mais outro que está em processo final de edição, a pesquisa também proporcionou o desenvolvimento de trabalhos de iniciação científica, especialização e mestrados, além de cursos e oficinas de formação de professores e de eventos de difusão científico-cultural.

O livro faz parte de um conjunto de publicações que resultaram da pesquisa “A qualidade da educação e a elaboração de indicadores para subsidiar políticas de educação e cultura”, desenvolvida por meio de uma parceria entre a Fundaj e a UFPE. O pesquisador da Casa, Maurício Antunes, foi o coordenador do projeto, junto ao professor Rui Mesquita, da UFPE, que é o coautor. “Fizemos a pesquisa profundamente em oito territórios, com equipes interdisciplinares. O processo foi bastante denso, com levantamento e conhecimento de experiências que têm essa relação entre educação e cultura”, explicou Antunes.
O título do livro é uma referência à interdependência entre cultura e educação: os nós que amarram e entrelaçam essa relação. As histórias observadas têm como participantes famílias, comunidades, educadores, mestres, artesãos, empresas, fundações, instituições públicas e ONGs. As pesquisas foram realizadas em todas as regiões do Brasil.
Através de entrevistas individuais e em grupos e registros de imagens e narrativas em diário de campo, os pesquisadores visitaram oito territórios distribuídos pelos estados de Pernambuco, Pará, São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e o Distrito Federal. O objetivo era conhecer as características socioculturais desses locais e coletar informações qualitativas sobre as experiências educativo-culturais desenvolvidas neles. Em Pernambuco, o estudo aconteceu nos municípios do Recife, por meio de grupos de ativismo cultural no bairro da Várzea; de Santa Maria da Boa Vista, por meio de escolas do campo, assentamentos da agricultura familiar e comunidade quilombola; e de Garanhuns, na Comunidade Quilombola de Castainho, por meio de escola do campo e grupo de mulheres.

Dentre os resultados, foi possível observar, de acordo com o livro, a diversidade que cada espaço tinha em suas dinâmicas, processos, tempos, formas organizacionais e modos de operar a cultura e a arte. Além de Maurício Antunes, a pesquisadora da Fundaj Cibele Lima Rodrigues participou do projeto. Foi possível observar que a atuação em rede de parcerias era presente em todas os projetos, seja com empresas e fundações privadas, seja com instituições públicas, e mesmo com outras ONGs e associações da comunidade.
O estudo de campo permitiu entender o uso da tecnologia para as atividades educacionais ligadas à cultura. Na Oca Escola Cultural, ONG que trabalha a cultura brasileira junto a crianças e adolescentes dos 5 aos 16 anos, no estado de São Paulo, e no Pró-Saber, centro especializado em letramento e alfabetização através da literatura infantil, na favela de Paraisópolis, os meios tecnológicos dão suporte na criação de produtos que facilitam o aprendizado a partir dos processos como contação de histórias, dança, teatro, música e brincadeiras.
Outras observações feitas ao longo da pesquisa e relatadas no livro foram sobre a relação entre educação e cultura das classes populares. Ainda há resistência por parte das famílias quando instituições de ensino tentam associar a cultura popular, memórias e atividades aos projetos educativos, principalmente quando existe a presença de elementos das tradições culturais de matrizes indígenas e africanas. As famílias ainda associam esses elementos à religiosidade e se opõem justificando que o dever da escola são os ensinamentos científicos e cultura erudita.
Durante o estudo, pessoas pertencentes a comunidades escolares foram entrevistadas. Uma delas foi o mestre Alcides, capoeirista, aposentado da Universidade de São Paulo, experimentado no desenvolvimento de projetos de capoeira em escolas e universidades. Na ocasião, ele falou sobre a inclusão de mestres da cultura popular nesses ambientes e suas dificuldades. “Então, nas culturas tradicionais, a metodologia não é ficar ensinando, falando, é deixar as pessoas curiosas para elas prestarem atenção e aprender”, disse em trecho do livro.
Participaram do estudo: as professoras Ana Emília Castro e Karina Valença (UFPE), o professor Caetano De’Carli (UFRPE), os estudantes de graduação, mestrado e doutorado Josenilda Maria Avlis, Manuela Dias, Sandro Silva, Thiago Antunes, as consultoras especialistas Carla Dozzi, Kelly Cristina Alves e Karla Teresa Amélia Fornari de Souza, as coordenadoras e técnicas do Comitê Territorial de Educação Integral de Pernambuco Glauce Gouveia, Rosevanya Albuquerque e Samira Bandeira, os mestres e educadores populares Ailton Fernando Guerra, Deybson Albuquerque Silva e Joab Ferreira da Silva.







