*Por Ricardo Bandeira de Melo — Lembro da primeira vez que estive no IRB, nas terras de São João da Várzea. O instituto ainda não havia sido oficialmente aberto ao público, e eu estava lá com uns 5 anos, vestido com um terno azul marinho de seis botões, com minha mãe e avó, para um bingo beneficente, certamente promovido pelo Noel, que é um grupo de senhoras da sociedade que se debruça sobre causas filantrópicas. Depois de cumprimentar 165 primos, consigo me desgarrar e fugir por aqueles jardins… Lembro do sentimento de deslumbre com tamanha beleza, me senti transportado no tempo e espaço. E quando vi minhas inicias “RB” espalhadas por todos os cantos, gostei mais ainda… Sempre fizemos brincadeira com essa história das iniciais… Enfim… O dia do bingo terminou com o pequenino Ricardo correndo atrás de uns pássaros exóticos num açude, e levando bronca da mãe por ter se sujado todo de lama…
Chamo com muito carinho desde criança, o para muitos mítico Ricardo, de Vovô Ricardo, por respeito e deferência. A amizade entre nossas famílias já dura mais de quatro gerações, com o passar do tempo, houveram vários casamentos que nos uniram mais ainda. Por isso, sempre tive e vou ter ele e Vovó Gracita, do lado esquerdo do peito. É impossível falar do Instituto, sem falar da engenhosa cabeça por trás dele, que é a verdadeira alma do lugar. Ele amava aquelas terras, lá era a sua Passárgada.

O IRB possui nada mais, nada menos, que uma das maiores, quiçá a maior, das coleções de armas brancas no planeta. Vovô Ricardo, em seu vasto acervo possui peças da mais alta cutelaria, entre elas espadas que pertenceram a Dom Pedro II, a Marechais, a Nobres europeus e a Exércitos Orientais. Mas ele sempre deixou bastante claro qual sua arma preferida: Uma espada cerimonial feita de ouro com diamantes cravejados, que pertenceu ao Rei Farouk, último monarca do Egito. Espada esta, que de tamanha suntuosidade, tem uma vitrine dedicada exclusivamente, com iluminação de destaque e um apito ensurdecedor que grita para os que tentam olhar mais de perto.
Lembro de certa vez que estávamos lá no Instituto, e Vovô Ricardo estava todo entusiasmado com a aquisição de um punhal medieval. Ele explicou que a arma era usada para assassinatos furtivos, pois o matador poderia apunhalar a vítima e devido ao formato da lâmina, ao ser retirada, ela não deixava cair uma gota de sangue sequer.
Fora essa coleção de armas, vemos por lá a maior coleção em várias fases de quadros de Franz Post, retratando o período da ocupação Holandesa, este que Vovô Ricardo era apaixonado. O acervo é uma verdadeira relíquia de nossa história, que nos mostra um Pernambuco ainda praticamente virgem.
Tem por lá também uma bela e enorme coleção de estátuas de mármore, dentre as muitas, destaco minha preferida: O “Nu reclinado em rede” do escultor florentino Antonio Filli, morto no começo do século XX (que não fica devendo nada aos maiores mestres renascentistas), que retrata uma moça descansando e que transmite uma sensualidade, pureza e beleza incomparáveis.

Curiosamente trata-se de umas das esculturas mais caras do museu, de acordo com informações de Leonardo Dantas Silva, que é dos crânios do Estado e colaborador de Vovô Ricardo. Conheço Leonardo socialmente, mas mesmo me apresentando, ele já me tratou um par de vezes com chocante indiferença, quase que beirando a falta de educação, mas não tenho dúvidas que ele não deveria estar se sentindo bem no dia…
Destaco também na vasta coleção de quadros, um nu de Bouguereau, que é o meu quadro preferido do museu. Artista este que é autor da minha favorita Pietà, quadro que já pertenceu a Sylvester Stallone, e que hoje faz parte de uma coleção particular anônima.

Dentre os vastos corredores, também encontramos uma coleção de bonecas de porcelana que usam joias de verdade, inspiradas na obra de Debret os “brinquedos”, foram feitos por Tia Marcina Pimentel, a pedido da H.Stern.
A última vez que estive com Vovô Ricardo, ele virou para mim olhando em meus olhos e disse “Bem está você, meu filho, que tem a juventude”. Essas poucas palavras são motivo de reflexão sobre como estou guiando minha vida. A partir desse dia, que veio a ser uma despedida, tento sempre tornar minha juventude – que tenho convicção da efemeridade – cada vez mais proveitosa e enriquecedora, abraçando todas as oportunidades que tenho de aprender cada vez mais e fazendo sempre o bem.

O IRB é aberto a visitação quase todos os dias, convido todos a conhecerem e se deslumbrarem a com riquíssima coleção que temos logo aqui, bem pertinho de casa…
Instituto Ricardo Brennand Rua Mário Campelo, 700, Várzea, Recife, 50741-430, Brasil
Ingressos custam entre R$30 e R$40 com direito a meia entrada e na última terça do mês a entrada é gratuita
Horário de funcionamento:
quinta-feira | 13:00 — 16h30 |
sexta-feira | 13:00 — 16h30 |
sábado | 13:00 — 16h30 |
domingo | 13:00 — 16h30 |
segunda-feira (Proclamação da República) | Fechado |
terça-feira | 13:00 — 16h30 |
quarta-feira | 13:00 — 16h30 |
PS: Um fato curioso, é que eu acredito que Vovô Ricardo tenha sido a pessoa que introduziu a raça de cachorros Chow-Chow no Brasil. Quando criança, minha mãe recebeu dele de presente um exemplar, que é o único do mundo que tem a língua rocha. Help, como mamãe chamava, foi morto dentro de casa, por um sujeito que achou tratar-se de um leão.
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*Ricardo Bandeira de Melo cursa Direito, é Presidente do PRTB Jovem Pernambuco e estudioso de Ciência Política.